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Quinta-feira, 18 de abril de 2024
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Deusval Lacerda

deusvallacerda@bol.com.br

24/11/2016 - 13h44

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Deusval Lacerda

deusvallacerda@bol.com.br

24/11/2016 - 13h44

O caso Geddel

Não é fácil entender e, pior ainda, guiar-se no Brasil, por suas arraigadas contradições. O impeachment da Dilma, segundo os seus articuladores, ocorreu, entre outras razões, para o novo governo debelar a crise econômica e dar dinâmica à governabilidade dentro de certos padrões éticos e morais.

 

Não é o que está acontecendo. Em certos aspectos está até piorando. A crise econômica, como todos sabem e sentem, há vetores que até recrudesceram os seus índices, por falta de diretrizes eficazes para serem aplacados. Na tal governabilidade, apesar da maioria absoluta no Congresso Nacional, está também indo de água abaixo.

 

Mas por razão simples. E que a história politica brasileira apenas se repete. Talvez pelo patrimonialismo politico na República herdado do Império. O Congresso não se vê em nenhum momento legislar para o Brasil sem imiscuir-se com o Executivo, que, por sua vez, ressabiado dos perigos das velhas práticas, compõe o governo obrigatoriamente com os membros do Congresso que lhe dá sustentação. Aí fica o governo do Congresso, quando se acha que é governo do povo. Ledo engano.

 

O governo do Congresso é do Congresso. O governo do povo é do povo. E pode haver governo do Congresso e do povo, contanto que, em vez de chicanas golpistas, aprimore-se o Estado Democrático de Direito. E, antes do golpe, era esta a transição democrática brasileira para catapultar à sua plenitude, ou seja, chegar-se ao governo do povo.

 

Agora, no governo Michel Temer, refluiu sobremaneira para o governo congressista, já que assumiu compromisso apenas com os parlamentares do golpe, vez que na época era extremamente impopular e só assim chegaria ao Palácio do Planalto. E nessa toada tem de fortalecer a articulação politica do governo em razão da própria sobrevivência.

 

Dessa forma, surgem nas governanças do Brasil figuras do Geddel, que, no atual caso do Ministério da Cultura, fez os congressistas e governistas fazerem a sua defesa antes da apuração pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República. O que prova ser governo do Congresso Nacional, que não quer dizer que seja governo do povo.

 

Só há governo do povo quando os poderes assumem verdadeiramente os seus papéis. E compete ao Executivo submeter ao Legislativo o que quer verdadeiramente para a nação, como aprovar propostas de acordo com as conveniências republicanas. Assim, a articulação política é feita às claras e de acordo com as demandas da população. Quando uma autoridade suspeita é defendida desbragadamente pelos próceres dos poderes é exatamente porque eles estão mancomunados no governo e dissociados da sociedade. 

       

 O caso Geddel é exemplo típico. Como ministro da Secretaria do Governo Temer (Secretário-Geral da Presidência da República) - a confusão já começa aí por não se saber realmente qual o nome certo do cargo que ocupa e, ainda por cima, ser secretário e ministro ao mesmo tempo -, é quem cuida dos interesses dos parlamentares nos escalões do governo ilegítimo, que, assim, querem dificultar a sua demissão e que fica ainda mais difícil ser administração pública voltada para os verdadeiros anseios do povo.         

   

 

Deusval Lacerda de Moraes é economista

Deusval Lacerda

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