Facebook
  RSS
  Whatsapp
Quinta-feira, 28 de março de 2024
Colunas /

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

13/12/2016 - 11h48

Compartilhe

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

13/12/2016 - 11h48

Operação Lava-jato e as Lições da História

A Revolução Francesa durou dez anos (1789/1799). Tendo proclamado a Primeira República Francesa em setembro de 1792, em apenas três anos os revolucionários puseram fim à monarquia absolutista que governara a França por mais de mil anos ininterruptos. Durante a Primeira República (1792/1805), o governo foi exercido por três órgãos sucessivos: a Convenção Nacional, o Diretório e o Consulado. A Convenção, que se estendeu de setembro/1792 a agosto/1795, criou o Comitê de Salvação Nacional, liderado por Robespierre, que pôs em prática o Regime do Terror, durante o qual foram guilhotinados, só em Paris, mais de cinco mil e quinhentas pessoas, entre as quais o próprio Robespierre. A sanha assassina da Revolução teve início com a decapitação do rei Luiz XVI e de sua esposa Maria Antonieta, sentença proferida pela Convenção Nacional, insuflada pelo povo, insuflado pela mídia engajada numa comunicação de guerra à monarquia, à Igreja e à nobreza. A Convenção era dirigida pelos grandes líderes revolucionários, heróis do povo, como Jean-Paul Marat, Jacques Hébert, Georges Jacques Danton e Maximilien Robespierre. Esses homens formavam o Comitê de Salvação Nacional, que tinha a missão de “salvar” a nação francesa, atormentada por um governo imperial despótico e incompetente, uma casta de clérigos que cobrava furiosamente o dízimo da Igreja e uma nobreza perdulária que estava isenta do pagamento de impostos.

 

Tal como a Revolução Francesa, também a nossa Força Tarefa da Lava Jato arrogou-se a missão quase divina de salvar o Brasil da corrupção. Alguns de seus membros empreenderam a jornada épica de explicar essa missão em templos religiosos, nas casas legislativas, nos organismos internacionais. A Lava Jato se tornou um ente à parte, emparedando o Congresso, o Executivo, o Judiciário e o Ministério Público. A imprensa nacional insufla as massas a irem às ruas contra a corrupção da política. E se os políticos não servem, a concertação política deve ser substituída pelo justiciamento dos corruptos. A degola começou pelo lulopetismo, atingiu o pmdebismo, o psdbismo e agora ameaça o próprio Ministério Público e o Judiciário com a guilhotina do abuso de autoridade.

 

Nesses momentos terríveis das nações parece que uma força estranha, misteriosa e imponderável empurra inexoravelmente os homens para o abismo. Ficam todos cegos, loucos, farsantes, cínicos. Mesmo os mais implicados nos crimes da Lava Jato vociferam contra o adversário enrascado, ainda sabendo de sua própria condição imunda. Os políticos mais sujos declaram-se, cinicamente, indignados com a sujeira dos outros, quando se sabem tão ou mais sujos do que aqueles a quem censuram.

 

Mas eis que, como em toda revolução, a roda gira e mais dia menos dia a lâmina da guilhotina chega ao pescoço do cínico, porque impulsionada – a roda – pela força brutal e insana da multidão, cujo ímpeto – antes controlável pela “opinião pública publicada”, agora não tem mais controle, não tem mais freio, como uma manada de gnus africanos que estoura e corre direto para o rio Okavango cheio de crocodilos. 

 

Na roda viva em que sempre se transformam os processos de “passar a limpo” as nações, as razões pelas quais os acusadores passam à condição de acusados são difusas e vão se materializando aos poucos. No caso da Lava Jato, começam a ser conhecidos alguns deslizes de seus membros. De uns, diz-se que colaboram secretamente com uma nação estrangeira – crime grave, de lesa pátria; de outro, noticia-se que investiu em imóveis do programa Minha Casa Minha Vida - especulação financeira com recursos públicos subsidiados, que só deveriam ser acessados pelos pobres. Avulta já a desconfiança de que sejam parciais, de que usam o poder para destruir seus inimigos ideológicos. Esta suspeita se mostra real à medida que ameaçam “renunciar” à Lava Jato se os legisladores os incluíram dentre aqueles que podem responder por abuso de autoridade, como se fosse razoável aceitar-se que investigadores possam renunciar ao seu ofício.

 

Na França, o regime do Terror matou os inimigos da Revolução e também os seus líderes, um por um, dentro de um sistema em que, paulatinamente, todos se tornaram acusados e acusadores, em que todos delatavam e eram delatados. Na ânsia de se salvarem, perderam-se todos.

 

Na revolução francesa, o objeto que justificou toda a carnificina – a República -, foi rapidamente sacrificado em razão da loucura em que se transformou o processo que a instituiu, de modo que mal durou catorze anos (1792/1804), e restaurou-se novamente o Império.

 

Pelos métodos que utiliza, com a Lava Jato parece que não será diferente: o objeto que persegue – a restauração da integridade moral do Brasil - pode nos levar rapidamente para as garras de um farsante qualquer, ou de volta a uma ditadura.

Acesse Piauí

Comentários