Hoje, no campus Torquato Neto da UESPI, circulava um carro de som em nome da ADCESP (Associação de Docentes do Ensino Superior da Uespi) convocando os professores para uma assembleia. Algo já quase rotineiro na luta por melhores condições de trabalho e salário de nossa categoria, pugna legítima e necessária. Mas o que me chamou a atenção foi o anúncio gravado para a convocação, este vinha precedido pelo som inconfundível da conhecida vinheta do plantão de notícias da Rede Globo – aquela dos microfones assustadores vindo em direção dos espectadores.
É inescapável, uma entidade de classe, numa plataforma política de reivindicação, com clara inflexão progressista e insurgente não consegue se desvencilhar da codificação midiática consagrada de uma emissora de televisão que não tem a menor anuência a qualquer anseio de nenhuma categoria de trabalhadores.
O fenômeno, porém, não ocorre apenas nesse exemplo contraditório da Adcesp, na verdade ele é muito comum entre outras classes e indivíduos. São aqueles que pregam o boicote, fazem um repúdio belicoso pedindo o fim da “Vênus platinada”, e, ao mesmo tempo, comentam sobre os programas de sua grade, sobre seu telejornalismo, acompanham sua teledramaturgia, e volta e meia, com elogios e reconhecimento de sua suposta competência. Isso acontece porque a Rede Globo é uma espécie de espectro Hamletiano em nosso imaginário, formata muito da subjetividade do brasileiro com seu poder avassalador.
Trata-se de um Complexo de Midias infiltrado no imprint cultural do Brasil.
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Feliciano Bezerra é filósofo e professor da Uespi
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