Na última sexta-feira (14) estive em Buriti dos Montes, em pleno sertão nordestino-a 240 km de Teresina. É nesse município piauiense que se encontra o "Cânion do Rio Poti". Lá adiante faz divisa com o Ceará. E do lado de lá Crateús. Vendo aquela paisagem cinzenta da caatinga- vitimada pela intempérie do clima- me veio à lembrança de dom Fragoso- bispo da diocese de Crateús, morto em 2006. Eu era rapazola quando o conheci em Limoeiro do Norte (CE). Na ocasião travava severa discussão, no auditório do Liceu de Artes e Ofícios, com o cônego Misael. Não me lembro precisamente qual o tema da polêmica. Mas vagamente me parece que discutiam alguma coisa sobre a "opção pelos pobres". Dom Fragoso foi um dos signatários do "Pacto das Catacumbas"- documento redigido e assinado por quarenta bispos , em 16 de novembro de 1965, em Roma. O documento tinha 13 itens e seus subscreventes comprometeram-se em levar uma vida de pobreza e colocar os pobres no centro do seu ministério pastoral. Dom Hélder Câmara foi um dos proponentes desse pacto. E ali, à sombra de uma varanda- entre amigos-, nos protegendo do sol constitucional daquela região, pude sentir durante um instante a valorosa missão daquele prelado. Diante de um Brasil desigual, preferiu viver ali, entre eles. E lutando por eles. Tivesse vivido numa Assis européia, e em outros tempos, teria sido proclamado santo. Mas não! Alguns o tacharam de "bispo vermelho".

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Flávio Nogueira é médico e suplente de deputado federal (PDT-PI).