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Sexta-feira, 19 de abril de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

03/08/2017 - 13h09

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

03/08/2017 - 13h09

Por amor ao Brasil!

Ao passar alguns dias de férias e longe do país fiz questão de não acompanhar nada que se referisse às manobras políticas brasileiras. Todavia, quando do retorno, as notícias continuam complicadas e muitas são tão fantásticas que não sabemos o limite entre o reale o imaginário. As novelas e séries de TV estão com grande dificuldade em concorrer com os bastidores do poder no Brasil. Os protagonistas dos escândalos há muito deixaram para trás os escrúpulos e qualquer manifestação ética. Nada importa a não ser a lucratividade absurda em cima de negociações escusas em que compram e vendem denúncias, mandatos e liberdades. A Lava jato segue às vezes no mesmo esgoto que o mar de lama.

 

 

O capital político que deveria ser o motor do campo,encontra-se apagado pela ação dos políticos de aluguel, pelo loteamento dos cargos, pela distribuição de minguados sacos de emendas. As estratégias de Sun Tzu, aqui não valem muito, visto que são guiadas pela honra. Em nosso país de nada adianta a honra entre homens e mulheres que praticam uma política que pouco ou nada serve ao povo. Não se fala de honra ou palavra dada, entre políticos que não se recordam de que foram eleitos pela população e que seu poder não é divino. A máxima da memória curta da população é uma bandeira bem cuidada.

 

 

Enquanto isso, o fantasmagórico e ilegítimo representante máximo do poder executivo em nosso país, compra senadores e deputados descaradamente, com emendas e cargos. O país afunda em todas as esferas, inclusive, na moral. Não há mais legendas confiáveis. Dentro do próprio Partido dos Trabalhadores vê-se apoio ao usurpador do cargo executivo.

 

 

Nesse cenário desolador, as panelas cessaram de bater, talvez porque nunca souberam ao certo porque estavam em ação, a principal bandeira era teoricamente de combate à corrupção, contudo, se configurou muito mais como uma vontade de tirar o Partido dos Trabalhadores do poder e com isso, retirar o maior símbolo da ascensão do proletariado em nosso país. No governo do Temerário as denuncias continuam de todos os lados, inclusive, atingindo o próprio e os grandes nomes do PSDB, por exemplo, todavia, as panelas não retornaram, talvez porque seus próprios ícones estejam envolvidos no mar de lama que tem lavado as estruturas do poder.

 

 

Seguimos bestializados, para usar uma expressão do mestre José Murilo de Carvalho. Todos nós, paneleiros e esquerdistas.

 

 

Parte da lama está exposta e o nosso jornalismo manipulador trata de dá o tom da trágica comédia e o povo segue apático.

Reformas são enfiadas em nossas gargantas sem a anuência do povo, nem de suas instituições. Reformas negociadas nas salas da Câmara e do Senado, em que o povo não passa de uma vaga lembrança, perdida no horizonte do pôr-do-sol de Brasília.

 

 

O mercado predatório fez o desenho da reforma trabalhista. E para quem pensa que está seguro porque não será atingido por esta reforma, outra o engolirá, a reforma da previdência. Então caríssimos leitores, o chão sobre nossos pés está de fato ruindo, a partir das ações de pessoas sem escrúpulos que estão a nos desgovernar.

 

 

 A constituição cidadã (1988) não está sendo regulamentada, mas sim, completamente, rasgada. Direitos estão sendo usurpados e o país da pseudodemocracia racial volta a mostrar sua verdadeira cara, que nada mais é, do que a de um país de desiguais que não deseja ver na mesma mesa todxs, compartilhando direitos e cumprindo deveres. Somos um país solidário sim, gostamos de arrecadar roupas e alimentos, mas não queremos que as pessoas para quem doamos o fruto das arrecadações saiam da condição de  necessitados, para uma situação de independentes.

 

 

Na mesma leva do pacote pensado pelos criadores do IPES e do IBAD na década de 1960 e que estariam no comando da ideologia de direita que derrubou João Goulart, seguem os herdeiros de então e criadores do IMIL- Instituto Milênio de hoje, cujo projeto de direita deseja um Brasil para poucos escolhidos.

 

 

Ciência e Tecnologia, motores do desenvolvimento de um país, estão sendo esvaziados completamente. Muitos institutos extremamente necessários para a produção de tecnologia, ou de medicamentos, estão à mingua. O CNPQ está às portas do colapso. As universidades federais estão sobrevivendo com o mínimo de condições de funcionamento. Algumas universidades estaduais, como a UERJ, estão de fatocom as portas fechadas, pelo menos até o final do ano, visto que seus professores e funcionários, estão há meses sem salários.

 

 

E quando nos deparamos com um movimento que deseja eleições diretas já, ficamos de cara com a falta de perspectivas, visto que os partidos estão podres. O Congresso está podre, a maioria de seus componentes já foi denunciada em alguma operação ou já está sendo processada.

 

 

O poder Judiciário também não está com a reputação muito boa. O processo do Aécio Neves, por exemplo, para não citar vários outros, é mais do que um indício de que este poder também está contaminado, não apenas com a parcialidade do lugar do julgamento, mas com o comprometimento dos julgadoresa partir de negociações ou relações de compadrio, comuns no Brasil desde o século XIX.

 

 

Então as eleições de 2018 ou, quem sabe ainda de 2017, nos soam como indecifráveis neste momento. No cenário da extrema direita, nomes que não repetirei aqui, para não dar visibilidade, surgem como “salvadores da pátria”. Em campanha desde 2016, pelo menos dois políticos viajam pelo Brasil e em muitos lugares são recebidos como heróis, porque propagam em seus discursos o ódio contra as minorias, ressaltando também o combate à violência, não com educação, mas com chacinas e construções de mais presídios. Esses nomes ameaçam a democracia e o estado laico. E por isso mesmo, não os considero dentro do escopo democrático, portanto, volto a repetir, a democracia não é o lugar do tudo pode. Vale lembrar que o nosso Brasil é um estado democrático de direito, embora ainda necessite caminhar muito (*ver nossos artigos anteriores sobre democracia). A democracia é o lugar do respeito ao outro a partir da construção de leis justas e igualitárias. É o lugar em que os direitos são garantidos pela lei muitas vezes como forma de educar, mas, sobretudo, de garantir que todxs tenham condições de vida digna.

 

 

Então por amor ao Brasil devemos fugir das armadilhas da lama do poder. Gravem o nome dos nossos deputados e senadores que neste momento traem abertamente a nação e o povo. Não devemos mais confiar nesses em hipótese alguma.

 

 

Por amor ao Brasil devemos fugir das armadilhas dos extremos. Nenhum salvador da pátria irá nos salvar. O Messias não virá dos céus e não designará ninguém em seu nome para governar o país. Nós escolheremos novamente,poispelo menos por enquanto ainda nos preservam este direito, mas cuidado talvez não por muito tempo. Em todo o caso vamos nos pautar e escolher trajetórias políticas que não estejampautadas em seus próprios umbigos, mas em ações estruturais que promovem transformações sociais. Outro cuidado que devemos ter é não acreditar em tudo que nos chega através das redes sociais. Em tempos de pós-verdade ( que não existe mesmo) o que reina nos faces e correntes de whatsaap da vida, é mesmo a mentira. 

Ana Regina Rêgo

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