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Terça-feira, 16 de abril de 2024
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Deusval Lacerda

deusvallacerda@bol.com.br

06/09/2017 - 12h19

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Deusval Lacerda

deusvallacerda@bol.com.br

06/09/2017 - 12h19

Contradições do Brasil

O Brasil vive atualmente o auge das contradições. A direita segue sempre incoerente, por exemplo, burla o Estado Democrático de Direito em nome da democracia. Castra os direitos sociais dos trabalhadores em nome de melhores condições vida para eles. E chega ao paroxismo de dizer que vai atingir o desenvolvimento congelando investimentos na educação; vai reduzir os índices de violência sem disponibilizar mais recursos para a segurança pública; e vai melhorar o IDH reduzindo programas sociais. Além de outros mil e um inconvenientes, como descaso com a saúde pública.

 

Não. Assim, é engodo. Não chega a lugar nenhum. Não consegue sequer ultrapassar a barreira politica civilizatória, que possa realmente conquistar um bom lugar ao sol para todos os brasileiros. Sabendo disso, no dia 31 de agosto de 2014, o jornal Meio Norte publicou artigo da minha autoria intitulado “Coerência na vida”, conforme abaixo:

 

“A pessoa humana para viver com decência, honradez e cidadania precisa cultivar alguns princípios consubstanciados na moral, na ética, na religião, nos bons costumes e no ordenamento legal que formam o conjunto de valores da sociedade. Esses valores são fundamentais no dia a dia de qualquer indivíduo, porquanto servem como parâmetro norteador dos seus atos por toda a existência. A pessoa humana se depara na vida com as mais variadas situações como também se inter-relaciona com pessoas ou grupos de pessoas que se apresentam com uma infinidade de ideias, pensamentos, fatos, ou seja, com uma gama de informações que define o padrão sociocultural de um povo. Por isso, é essencial que, nesse turbilhão de decisões, se aja em conexão e harmonia com os fatos e com as ideias. Isto se denomina de coerência.

 

A coerência é essencial na vida das pessoas, para que assim elas não falseiem a verdade nem possam agir de forma abjeta, atrabiliária, inconsequente, desprovida de logicidade, mas lastreadas sempre em normas valorativas que dignificam os seus atos e elevam as suas atitudes. O discurso e a ação devem caminhar sempre juntos, um é o complemento do outro. Não é prudente desassociá-los, sob pena de o discurso se tornar inócuo, vão, irrealizável, e a ação se tornar infrutífera por ser inapropriada. E assim o ser humano percorre a sua trajetória. Uns, supervalorizam demais esse fato e, como se observa através das gerações, perenizam a sua existência com exemplos a serem seguidos. Outros, contrariamente, desprezam completamente essa condição, mas as suas passagens terrenas jamais serão lembradas.

 

Cada um possui o livre-arbítrio para traçar o que fará na vida. Ocorre que alguns querem chegar aonde jamais alcançariam. Outros querem ser o que não poderiam. Assim, muitos seguem a sua caminhada de forma não muito republicana. E por aí vão. Acontece que, na esperança de galgar espaços que muitas vezes já estão preenchidos, alguns não levam em conta esses valores consolidados e, para atingir certo pedestal, desrespeitam frontalmente o atributo da coerência. Aí só pioram as coisas, porque assim agem como arrivistas, aplicam a “Lei de Gérson” (aquela do sujeito levar vantagem em tudo), querem se apoderar do que não é seu, tomam o lugar dos outros sem o devido mérito, enfim, contribuem apenas para descontruir a valoratividade da sociedade escamoteando o processo civilizatório.

 

Na politica não é diferente. Nesse campo, as pessoas envolvidas devem ser ainda mais correntes. Porque possuem a função específica de representar os segmentos da sociedade que as aprovam. Por isso a responsabilidade é maior. Seus atos, gestos, atitudes, ações, repercutem sobre as demais, e não somente sobre si mesmas. Todo passo dado pelos políticos deveria ser obrigatoriamente dentro dos regramentos socais já sedimentados, para não comprometer a coletividade. Assim, mais do que ninguém, os políticos devem ser visceralmente coerentes: coerente com o seu partido, com a sua ideologia, com os segmentos sociais que representam, com os seus eleitores, com a defesa do povo em geral, com a lisura no cumprimento dos mandatos e, acima de tudo, na gestão pública executiva.

 

No que se refere propriamente às articulações político-partidárias para compor as coligações visando os pleitos eleitorais, aí os políticos devem esbanjar coerência. Porque eleições pressupõem governança. E governar é o ponto culminante, é complexo, não é para qualquer um. Exemplos de fanfarrões, bonachões, enganadores, impostores, inábeis, infiéis, inconfiáveis, incompetentes, farsantes, golpistas, enfim, dos que chegaram oportunisticamente ao pode e foram pródigos em incoerências. Nem é bom lembrar, para não causar náuseas. Assim, os papéis não podem ser invertidos. Em todos os pleitos eleitorais, portanto, os políticos devem manter a coerência na formação das alianças partidárias, não permitindo a promiscuidade com os ultrapassados, testados e reprovados ou usurpadores do poder em nome apenas de ganhar o poder pelo poder, por serem prejudiciais ao povo. Quem age assim deixa um péssimo legado para todos”.

 

Como visto, o Brasil, com o reacionário golpe parlamentar-constitucional-judicial que se traduz na mais abominável das incoerências, vem piorando até no nível da coerência pública, quando o governo ilegítimo diz ter propósito coletivo em escancarada ação em prol de interesses controversos, como o do rentismo e do capitalismo selvagem internacional, que, em nome do aumento do bolo deles, suga a única seiva que muitos brasileiros ainda pode oferecer: a força do trabalho, mas apenas para subsistir, sobreviver, numa forma de exploração dos tempos modernos, dos tempos industrial-tecnológico-digitais. É contradição para ninguém botar defeito.    

 

Deusval Lacerda de Moraes é economista 

 

Deusval Lacerda*

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