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Sexta-feira, 19 de abril de 2024
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Gustavo Almeida

almeidajornalista01@gmail.com

30/04/2015 - 10h46

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Gustavo Almeida

almeidajornalista01@gmail.com

30/04/2015 - 10h46

Piauí: o drama da migração ainda vive aqui

“Só Deus sabe o quanto sofre um nordestino, que vê seu sonho de menino se acabando pelo ar. Ele sofre quando tem que ir embora, a família toda chora, mas não pode mais ficar...”.

 

A realidade descrita na música “Lamento de um Nordestino”, de autoria do cantor e hoje deputado estadual piauiense Francis Lopes tem mudado na última década, segundo mostram os dados mais recentes sobre fluxos migratórios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de retirantes nordestinos que deixavam a terra natal em busca de melhores condições de vida na região Sudeste do país, a exemplo do próprio cantor, registrou diminuição considerável.

 

Enquanto a saída diminuiu, o número de nordestinos que retornaram ao lugar de origem cresceu. Os dados podem ser comemorados? Sim, podem. No entanto, o problema da migração ainda é um grande gargalo vivido pelas famílias piauienses. Em pleno século XXI, o duro momento de se despedir dos parentes para buscar uma vida melhor longe de casa ainda é enfrentado por muitos homens e mulheres filhos desta terra.

 

Segundo o IBGE, o Piauí ainda está entre os estados que mais perde população por causa da migração. O drama é maior e bem mais visível nas pequenas cidades do interior, onde o braço do desenvolvimento chega a passos de tartaruga quando o assunto é boas oportunidades de emprego e educação. A energia elétrica, a internet e os telefones celulares já chegaram em todas elas, mas esses avanços não significam muito no quesito contenção de migrantes.

 

Ao atingirem a idade adulta, os jovens naturalmente querem buscar um trabalho para ganhar dinheiro e terem uma renda própria. Outros, a minoria, procuram prosseguir os estudos após concluírem o ensino médio, nível já universalizado no Piauí. Mas qualquer uma das opções impõe uma única escolha, sem alternativas: abdicar do lugar onde nasceram e partir para tentar a sorte em uma cidade maior.

 

Nas pequenas cidades, os campos de emprego praticamente inexistem na iniciativa privada. Aliás, a própria iniciativa privada é insignificante. Ganhar um miserável salário mínimo nas lojinhas, comércios ou bodegas é algo difícil. Geralmente, o grande empregador nessas cidades é o Poder Público Municipal, que não muito raro passa dois meses sem pagar aqueles que decidiram permanecer enquanto durar o mandato do gestor em que eles votaram. Isso, claro, excetuando aqueles que tiveram a sorte de “serem concursados” na prefeitura.

 

Devido essas precariedades, a maioria da juventude sai em busca de emprego em outras cidades. São Paulo, como sempre foi, ainda é o principal destino de quem nasceu, cresceu, mas não pode ficar na terra natal. Assim como outrora, a saga do migrante continua mais viva do que nunca, do tamanho da omissão e do esquecimento governamental em relação as pequenas cidades encravadas no meio do sertão.

 

Ao contrário do que muita gente pensa, as rodoviárias do Piauí ainda são palco de rurícolas embarcando com litros de mel, doces, farofa de carne de bode, manteiga de gado e muita saudade na bagagem. E tenham certeza: a grandiosa maioria não hesita em afirmar que se tivessem oportunidades dignas de trabalho na terra natal jamais a deixariam.

 

Entre 2005 e 2010, a empresa Itapemirim, símbolo da migração nordestina, apontou uma queda de 10% no número de passageiros entre cidades do sertão e São Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo assim, suas poltronas e as de tantas outras viações que cortam o país do Nordeste ao Sul, ainda carregam os frutos da incapacidade piauiense de segurar seus filhos. O certo é que, enquanto os índices de migração forçada forem grandes, algo indica que a inoperância do Estado é ainda maior.

Gustavo Almeida

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