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Sabado, 18 de maio de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

12/02/2021 - 09h20

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

12/02/2021 - 09h20

NÓS E AS REDES: empoderados ou explorados?

 

A consciência história não é muito forte em nosso país. Os negacionismo vigoram e encontram mais e mais adeptos a cada dia. Negacionismo históricos e científicos encontram acolhimento nas mentes e corações vazios de criticidade. A consciência coletiva também não é muito forte em nossa sociedade, se assim fosse, não estaríamos com mais de 233 mil mortos por Covid-19 impulsionadas tanto pelo desastre das ações do desgoverno, mas também, pela colaboração de um país de pessoas inconscientes e não solidárias com os vulneráveis, os pobres, os idosos e os que possuem comorbidades. Pessoas inconscientes que lotam bares, festas, praias, etc., como se a vida do outro não importasse.

Essa inconsciência tem se tornado algo comum a muitos de nós, ou melhor, a todos nós em algum momento da vida. Cientes desse comportamento humano inconsequente, as plataformas digitais têm atuado e aprimorado tanto seus modelos de negócios, quanto suas estruturas de vigilância, controle e estratégias de sensibilização de seus usuários, que em suma, somos todos nós que “vivemos” na virtualidade. 

Já falamos aqui de economia da atenção, de sociedade do controle e da recompensa,  de economia da audiência, mas mesmo compreendendo que nós somos os produtos comercializados nas plataformas com o mercado de anunciantes, nós nos inserimos e transitamos nas redes como se esse fosse o lugar do empoderamento e da fala livre. O que não deixa de ser verdade se compararmos com os meios de comunicação tradicionais, todavia, esse lugar de fala empoderado não é gratuito como pensamos e, é aí que mora o grande perigo. Na verdade nossa atenção e dedicação ao trabalho gratuito que fazemos 24 horas por dia nas redes sociais é o principal produto das plataformas, e nós, como falamos nessa coluna há vários anos, não passamos de escravos, que embora vendidos virtualmente (dados, informações, opiniões, etc.) temos nossa vida concreta comprometida pelos acordos que fazemos com as plataformas, quase sempre de forma inconsciente.

Recentemente, o aplicativo de mensagens WhatsApp divulgou que pretende compartilhar os dados de seus usuários com o Facebook, empresa que na verdade é sua proprietária. Esse compartilhamento deveria ter ocorrido esta semana, mas foi adiado, tendo em vista a reação de vários setores da sociedade em alguns países. 

Vale pensar que o Facebook desde o início da década passada vem aprimorando seus métodos de garimpagem de dados de seus usuários. Modelos da Psicologia Comportamental tem sido utilizados com grande intensidade e frequência para capturar informações sobre o imenso banco de dados pessoais de que dispõe em todo o mundo.  Já em 2014, ano em que adquiriu o WhatsApp, o Facebook tinha condições de saber com precisão tudo sobre a personalidade de uma pessoa cujo perfil estivesse em sua plataforma, para além de todos os dados pessoais, os rastros que deixamos o tempo todo, cada vez que nos movimentamos em qualquer dispositivo conectado à rede mundial de computadores, direciona o mercado para onde seremos vendidos e que em troca nos oferece seus produtos, ou seja, somos vendidos para podermos comprar mais e mais. De qualquer dos lados, somos manipulados e explorados.

De 2014 aos dias atuais, os mecanismos de captura de dados e controle das pessoas em suas bolhas, assim como, as experiências que provocam o desentendimento social e político, a polarização etc., através dos famosos algoritmos que nos vigiam a todo momento, tem sido aprimorados de forma constante. 
O Facebook se tornou o grande olho que tudo, vê. Ultrapassando o Panóptico de Bentham, o Facebook se coloca hoje como o grande olho de Sauron, no Senhor dos Anéis de Tolkien, comandando um exército de mentes que se dedicam a pensar em como podem nos vigiar, extrair nossos dados e informações, controlar nossos movimentos pelas redes sociais e aplicativos e nos manter ativos, em movimentos controlados que passeiam entre os lugares (redes sociais, aplicativos de mensagem, plataformas de jogos, etc.) que disputam nossa atenção e ao mesmo tempo, vendem essa atenção à empresas que anunciam nas plataformas, mas que diferentemente do passado, não controlam os próprios anúncios. 

O que as mudanças no WhatsApp revelam sobre as intenções do Facebook? Vale pensar que em 2016 o Facebook deixou claro que os usuários (nós, os dependentes digitais),  tinham liberdade para compartilhar ou não, informações entre as plataformas da mesma empresa. Em 2021, a intenção é acabar com essa liberdade, ainda que mínima e não seguida por muitos usuários. O que em tese era opção, passará, provavelmente, a partir de maio (nova data indicativa para a mudança), a ser obrigatória. Ou, o usuário aceita ou não poderá mais usar o aplicativo WhatsApp. 

Há que se ressaltar que a reação do público fez o Facebook recuar, porém, não se sabe exatamente o que poderá ser otimizado em favor do público.

Facebook e WhatsApp afirmam que as mensagens continuarão a ser criptografadas, embora, talvez esse processo mude para contas comerciais. 

Por outro lado, vale pensar que quanto mais você utiliza as redes sociais e fornece informações sobre si e emite suas opiniões, mais você se torna um produto acessível e formatável para a plataforma onde se encontra e se movimenta. Fique ciente de que desde seus dados pessoais, de sua família, trabalho, amigos, convicção política, inclinação ideológica e religião, são amplamente conhecidos pela plataforma digital. Esses dados são trabalhados para formatar seu perfil de produto que terá sua atenção e seu engajamento vendidos ao mercado e anunciantes. Por outro lado, seus dados como RG, CPF, endereço, cartões de crédito, contas em bancos, suas dívidas, suas compras,  etc.,  são comercializados tranquilamente não só nas redes, mas nas esquinas das praças para qualquer companhia de telemarketing. 

Carissa Véliz, Professora da Universidade Oxford e autora do livro  A privacidade é um poder denomina o Facebook de abutre de dados, um pouco pior do que os já tradicionais corretores de dados (data brokers) . Para Véliz em entrevista concedida à BBC Mundo “Parece inocente, mas essa prática é muito mais perversa do que isso. Imagine que você entra em qualquer página da internet que tenha anúncios e, enquanto a página está carregando, são fornecidas em tempo real informações com seus dados para centenas de empresas que podem querer te mostrar um anúncio sem que você tenha consentido. Essas suas informações que são vendidas podem incluir aspectos muito sensíveis como o poder aquisitivo, a localização, a orientação sexual ou política e suas dívidas”.

Tudo isso nos afeta de um modo que pode passar imperceptível, sem que possamos perceber a influência da vigilância e do controle que as plataformas exercem sobre nós, nos dias atuais, mas que podem terminar não somente influenciando em nossas ações no mundo real, tais como comprar um bem, pedir um empréstimo, ter um projeto rejeitado, etc., como também podem influenciar nos rumos das democracias e da instalação de governos ditatoriais ou totalitários, como temos visto em várias partes do globo nos últimos anos. Fique atento! Leia e se informe! Acesse www.rncd.org 




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