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Quinta-feira, 09 de maio de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

20/05/2021 - 15h57

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

20/05/2021 - 15h57

O vírus, a peste, o conhecimento, a ignorância e a CPI

 

Nossa grande vantagem sobre o vírus é a nossa habilidade de cooperar de forma efetiva. E, de todas a formas de cooperação, o compartilhamento de informações é provavelmente o mais importante, pois não se pode fazer nada sem informações precisas. Não é possível desenvolver remédios e vacinas sem informações confiáveis. Na verdade, até o isolamento depende de informação. Sem compreender como uma doença se alastra, como será possível colocar as pessoas em quarentena para combatê-la?   (Yuval Harari, 2020)
 
E eis que chegamos mais uma vez na encruzilhada em que nos encontramos, em que as pandemias do novo coronavírus e da desinformação se entrecruzam, impedindo que as sociedades, no caso, grande parte da sociedade brasileira, tenha acesso às informações imprescindíveis, neste momento, para salvar vidas.
 
Na raiz do problema, as lideranças negacionistas e parte da medicina pautada na experiência e não evidência, criando narrativas paralelas e trabalhando com verdades alternativas, levando o povo brasileiro a permanecer na ignorância, quer esta tenha sido construída intencionalmente pelo mercado das falsas informações, quer seja apenas a manutenção de desejos, valores e crenças de uma população que não respeita o outro.
 
Enquanto a ciência tem corrido contra o tempo para salvar vidas, desenvolver vacinas, deixar claro quais medidas protegem, compartilhando informações científicas numa velocidade nunca antes vista, lideranças negacionistas têm procurado trabalhar em favor do vírus e em detrimento das populações, principalmente, as mais vulneráveis, que se veem acuadas entre o trabalho necessário para a sobrevivência e o vírus que está à espreita em cada transporte público e em cada esquina.
 
A Comissão Parlamentar de Inquérito- CPI da COVID-19 tem procurado mostrar a cada depoimento colhido que o trabalho orquestrado pelo governo brasileiro atual sempre foi em favor da proliferação do vírus e do genocídio do povo brasileiro. 

Em primeiro lugar a recusa das ofertas das vacinas feitas ao governo brasileiro pelas grandes indústrias internacionais ainda em meados de 2020. Por outro lado, o investimento de recursos em um grande montante de medicamentos para tratamento precoce, já descartados pela ciência e por grande parte da medicina, ainda que mesmo neste maio de 2021, encontremos médicos de vários lugares do Brasil, com destaque para médicos ortopedistas, dermatologistas, ginecologistas, clínicos gerais dentre outros, que ainda prescrevem tratamento precoce e divulgam. O chamado kit-Covid do qual o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, foi o maior divulgador, tem provocado estragos na saúde do brasileiro, com o aumento do número de casos de pessoas que por exemplo, ao tomar ivermectina (remédio para verme e piolho) por um longo prazo, tem tido complicações sérias nos rins,  levando, inclusive, a óbito.
 
O Ministério da Saúde investiu ainda em 2020 no kit-Covid e fez distribuição desses medicamentos pelo Brasil, com destaque para a região norte, onde a Covid-19 também tem feito estragos irreparáveis. Hoje, o ex-ministro Pazuello que no momento em que escrevo este texto, manhã de quarta, 19 de maio, depõe à CPI já mencionada e tenta se explicar tanto no caso da recusa da vacina da Pfizer como no caso dos investimentos em medicamentos. No caso da vacina, Pazuello afirmou que o contrato com a empresa “era assustador”. Já o ex-Secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, por sua vez, e em depoimento anterior, afirmou que não tinha conhecimento das campanhas como “ O Brasil não pode parar” que trazia uma narrativa contra o isolamento social, medida necessária para conter a contaminação em massa.

Paralelo a isso, toda a família Bolsonaro, assim como, os parlamentares governistas e negacionistas estão a todo vapor, apagando postes que fizeram ao longo de mais um ano contra isolamento, distanciamento, uso de máscaras, e em prol do tratamento precoce e até mesmo contra a vacina.
 
Hoje à beira de 440 mil mortos e com a previsão de mais de 700 mil mortos para os próximos meses, o Brasil encontra-se em colapso total por conta da crise sanitária desproporcional provocada pela pandemia da Covid-19 e pela ausência de uma gestão pública eficiente desta mesma pandemia. O vírus tem como aliado um governo que coloca a vida de seus cidadãos em risco e que tem matado grande parte de seus adeptos.
 
A falta de visão do governo e de seus ministros e dos parlamentares que o apoiam e que sempre estiveram preocupados com a economia, não permite que vejam que somente o controle da pandemia pode proporcionar o retorno da economia. Embora, nem mesmo isso, possa trazer de volta a classe C pujante e economicamente ativa e que tanto cresceu nos governos anteriores impulsionada por uma política de pleno emprego e de bem estar social. Sob a gestão de um neoliberalismo extremo implementada pelo Ministro Guedes a única coisa que cresce é a pobreza e a desigualdade social.
 
Falta liderança em nosso país, como já faltou nos Estados Unidos que hoje refaz seu percurso diante da história da democracia e em prol de seu povo. Como bem nos disse Yuval Harari há cerca de um ano “Hoje a humanidade enfrenta uma crise aguda, não apenas por causa do coronavírus, mas também pela falta de confiança entre os seres humanos. Para derrotar uma epidemia, as pessoas precisam confiar nos especialistas, os cidadãos precisam nos poderes públicos e os países precisam confiar uns nos outros. Nos últimos anos, políticos irresponsáveis solaparam deliberadamente a confiança na ciência, nas instituições e na cooperação internacional. Como resultado, enfrentamos a crise atual sem líderes que possam inspirar, organizar e financiar uma resposta global coordenada”.  Vale pensar que hoje Joe Biden tenta tomar a liderança, reforçar os laços com a Organização Mundial de Saúde-OMS, por exemplo, no caso da quebra de patentes das vacinas para que os países pobres possam também vacinar suas populações, visto que sem isso, o hemisfério norte não terá paz e viverá à sombra do vírus e da peste. 

Enquanto isso, no hemisfério sul e na república das bananas do Brasil lutamos em diversas frentes tanto contra o coronavírus, como contra a desinformação que se alastra a partir de um mercado estratégico e articulado que tanto lucra politicamente, quanto financeiramente com a desinformação.
 
Vale pensar no que nos diz Yuval Harari na citação que coloquei no início deste texto, da qual destaco que uma das vantagens da humanidade sobre o vírus, para além do capacidade do pensar critico, é a possibilidade de compartilhar informações enquanto conhecimento comunicado de modo a possibilitar os avanços científicos de forma mais veloz, contudo, quando a própria humanidade luta contra a informação científica, a informação jornalística e histórica, criando inimigos entre os iguais, termina jogando em favor do vírus. Namastê, use máscaras e só saia quando necessário!

Jornal Nexo

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