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Quinta-feira, 09 de maio de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

28/06/2021 - 06h31

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Ana Regina Rêgo

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28/06/2021 - 06h31

A pandemia, o genocídio e o negacionismo - desenho

 

O potencial de letalidade do novo coronavírus e de suas variantes tem sido comprovado a cada dia, não somente pelas centenas de pesquisas e estudos que se desenvolvem em todas as partes do planeta com vistas a que a humanidade sobreviva a tamanha catástrofe que já perdura mais de um ano, mas também pelos números crescentes de contaminados e mortos em muitos países que não tomaram as devidas providências na gestão da pandemia.
 
Essa letalidade como dito acima é comprovada e é exatamente por isso, que medidas preventivas como uso de máscaras em ambientes públicos, distanciamento social e em alguns momentos isolamento social, são necessárias.
 
A história das pandemias nos ensina que muitas dessas medidas já são milenares e ainda são eficientes, em muitos casos, funcionam como principais medidas, até que a Ciência em parceria com ações de gestão e políticas públicas de saúde eficientes, consiga controlar a proliferação do vírus na sociedade. É nesse ponto em que parcerias entre Ciência, comunicação e gestão governamental são fundamentais para que a pandemia não saia de controle, como nos casos do Brasil, Estados Unidos e Índia, no momento atual de Covid-19.
 
No último final de semana o Brasil chegou à impensável marca de MEIO MILHÃO DE MORTOS por Covid-19, tal fato nos coloca diante de uma realidade tão invível como o foi,  o Holocausto e, tanto quanto naquele evento catastrófico, onde o negacionismo se fez presente no presente e no futuro dos alemães, a pandemia da Covid-19 e seus números diários crescentes e exorbitantes, também despertam com grande ênfase o negacionismo.

No caso brasileiro atual, efetivamente o negacionismo é também fruto de uma construção intencional e provocado por um ecossistema desinformacional que trabalha diuturnamente para alimentar as redes sociais e os grupos de distribuição de mensagens em aplicativos como WhatsApp e Telegram, com narrativas que tem a dúvida como cerne da questão, logo substituída por certezas que contestam tanto a realidade da má gestão do governo federal, quanto a eficácia das vacinas e os números de mortos por Covid-19.
 
Um passeio rápido, por alguns perfis  de apoiadores do atual presidente da República Federativa do Brasil, nas redes sociais, nos coloca à par das argumentações contra o rótulo de genocídio governamental intencional e de genocida. Dentre as argumentações, as narrativas dos apoiadores, nesse caso do genocídio concernentes à 500 mil mortes, tinha como foco principal os números de mortos em outros países em comparação com o Brasil, e ao final a pergunta, será que todos foram genocídios dos governos desses países.
 
A pergunta e a confrontação dos dados que espero colocar ao final deste artigo, revelam tanto o desconhecimento das gestões da pandemia em cada país e seus problemas peculiares tanto com governantes, como no caso norte-americano, onde durante o primeiro ano de pandemia havia um negacionista no poder, Donald Trump, também não adepto ao isolamento social, nem ao uso de máscaras e muito menos das vacinas, motivo pelo qual os EUA segue me primeiro lugar no ranking dos números de contaminados e mortos. Joe Biden, atual presidente, tem conseguido reverter parte do quadro complicado, mas parte da população norte-americana, que ainda é mais polarizada que a nossa, segue firme contra as medidas adotadas pelo governo, esse processo dificulta o controle pleno da pandemia. Todavia, por lá os vacinados já podem circular sem máscaras em alguns espaços públicos, embora precisem adotar distanciamento e evitar aglomerações.

No Brasil a CPI da Covid-19 vem comprovando o que já sabíamos, ou seja, as intenções estratégicas do governo de não adotar medidas sanitárias propostas pela Organização Mundial de Saúde-OMS no que concerne ao isolamento social, distanciamento e uso de máscaras. Por outro prisma,  esta Comissão Parlamentar de Inquérito vem desvelando o lado sombrio do governo que recusou a oferta de vacinas ainda no início do segundo  semestre de 2020, vacinas estas que poderiam ter salvo a vida de muitos e muitos brasileiros. Portanto, o que transforma a gestão do governo federal em uma potencial candidata à genocida é exatamente a orquestração de ações que prejudicaram a gestão científica da pandemia.
 
Por um lado, o Presidente Jair Bolsonaro em declarações e ações diárias contra o uso das máscaras, contra o isolamento social e o distanciamento se colocando como um autorizador simbólico de atitudes negacionistas em relação ao potencial letal do vírus, autorizando desse modo, parte do povo deste país, crédula em suas ações a se expor ao vírus e assim podendo vir a morrer. Sendo forte agente interveniente na morte de seus próprios seguidores. 

Por outro lado, a partir do Gabinete paralelo e/ou Ministério da Saúde fantasma que o assessorou na gestão da pandemia, gabinete formado, em sua maioria, por médicos negacionistas da Ciência, o Presidente também apoiou enfaticamente o tratamento precoce, comprando, distribuindo o kit Covid-19 pelo país e se colocando como garoto propaganda de medicamentos, o que acarretou na fragilidade da imunidade do brasileiro com medicamentos sem nenhuma comprovação científica de seus resultados em relação ao novo coronavírus. E, como dito acima, fechou as ações estratégicas com o retardo na negociação com as farmacêuticas e a compra das vacinas, deixando nossa população vulnerável por muito tempo.
 
No momento em que escrevo este artigo, menos de 12% da população brasileira foi imunizada com as duas doses das vacinas, enquanto que um pouco mais de 30% recebeu a primeira dose, e, portanto, ainda não possui imunidade contra o vírus. 

Em apoio as ações do governo o mercado da desinformação e o movimento antivacina trabalham incansavelmente para convencer mais e mais pessoas, não somente a não se vacinar, mas também a quem já tomou a primeira dose, para não retornar para a segunda. Os argumentos que utilizam são muitos, desde loucuras como o implante de um chip 5G até a morte certa em até dois anos após tomar a segunda dose.
 
Logo em nossa realidade complexa, o mercado da desinformação, o fenômeno do negacionismo e da ignorância política e coletiva, assim como, a atual gestão governamental estão diretamente implicados no genocídio que sofre o povo brasileiro. Jair Bolsonaro não é o único culpado, visto que parte da nossa população age sem consciência coletiva, mas ele é com certeza, o principal e mais importante responsável. 

Por fim, coloco aqui números de países que estão a caminho do controle da pandemia, pois enquanto o Brasil mantém diariamente um número de mortos superior a 2 mil, o Reino Unido onde a vacinação está bem avançada, nos últimos dias morreram 27 pessoas. Na Itália não tão destacada na vacinação, morreram 31 pessoas. Nos Estados Unidos morreram 432 pessoas, número ainda muito elevado, mas bem inferior ao do Brasil. Na França foram 51 mortes nos últimos dias. Na Alemanha 76 mortos. No Canadá 71 mortos. No Chile 45. Na Bélgica 3. Em Portugal 6. Iraque 25 mortos. Áustria 4. Marrocos 3. Equador 11. Uruguai 34. Dinamarca nenhuma morte nos últimos dias. Já em Cuba até o momento, o número total de mortos é  de 1.180 pessoas sendo que 10 na última semana. 

Fonte atualizada a cada hora e disponível para amplo acesso:  Covid-19 no Google. 

Agência Brasil

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