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Editorial

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11/08/2021 - 11h05

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11/08/2021 - 11h05

Classe média vive crise financeira e dilema após decepção com o "mito"

 

A classe média brasileira revive atualmente a sua crise de identidade política. Uma parte significativa sempre se identificou com a elite política e, quando não votou com a direita (e até a extrema direita) votou no centro, nos partidos mornos. Em 2002, uma parte significativa apostou em Lula e depois em Dilma até antes das denúncias de corrupção, acompanhadas da demonização do PT feita pela Globo e o então juiz Sérgio Moro.  

Com a queda de Dilma, essa classe passou a procurar alternativa no centro até o Aécio Neves ser grampeado pedindo propina ao Joesley, da JBS. O centro deixou de ser alternativa e as manifestações de rua "verde e amarela" passaram a nortear posturas radicais com a pregação de intervenção militar, contra tudo que está aí, contra o STF e o Congresso Nacional até aparecer um novo salvador da pátria, tal como aconteceu com Collor, em 1989, com a estória de "Caçador de Marajás".

Em 2018  apareceu a facada do candidato de extrema direita, o "mito". Foi aí que a classe média reacendeu novamente o ânimo e apostou todas as suas fichas na estória do "Brasil Patriota", contra tudo e contra todos, na expectativa de que seus problemas e do país seriam resolvidos. 

Passados mais dois anos e meio do governo do "mito", a maioria da classe média ainda não constatou que foi incluída, ou seja, não recebeu o bônus por ter votado nesse projeto. Pelo contrário, cada vez mais amarga decepção no governo que conduziu mal o país na pandemia e, o pior, seu poder de compra vem caindo rapidamente. A inflação corrói cada vez mais os salários, que vem perdendo de goleada para os combustíveis, gás de cozinha, alimentação, planos de saúde, mensalidades escolares, passagens aéreas, etc. 

Nesse meio tempo, o petista Lula é solto e passa a despontar em primeiro lugar nas pesquisas para as eleições de 2022. Com isso, a classe média dividiu-se. Metade passou a lembrar que viveu melhor no período em que o ex-torneiro mecânico esteve na presidência, enquanto outra metade ainda sonha com uma terceira via ou persiste em manter o nariz empinado, apostando que o "mito" ou outro candidato de direita poderá ainda ser sua redenção.

Enquanto isso, o "mito" para barrar o crescimento de Lula nas pesquisas, acena para os mais pobres com o projeto de substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, que terá o benefício, segundo ele, 50% maior. Com esta medida, vai deixando de escanteio a classe média. 

O pior é que a perspectiva de que a vida da classe média vai melhorar daqui pra frente é ilusória, isto porque a ideia do Ministério da Economia é enfraquecer o Estado, acelerar a privatização de serviços públicos, tal como vem fazendo com os Correios; apoio às grandes corporações privadas, agronegócio e os bancos. Sem falar que a economia patina e, neste período de quase pós-pandemia, o desemprego é alto, o país não mostra sinais de que vai gerar bons empregos e melhorar a renda, promover concursos públicos, reduzir o imposto de renda e os custos dos serviços, etc. 

O maior dilema de grande parte da classe média brasileira é cultural, pois foi colonizada de cima para baixo, sonha um dia ser elite, quer portanto privilégios, tal como já afirmou Milton Santos. Não tem como referência a soberania do país, o fortalecimento do Estado Democrático Brasileiro, o engajamento nas organizações da sociedade civil, o respeito ao povo simples e trabalhador, que batalha pela sobrevivência diária e, que, infelizmente, ainda é visto com preconceito e, não como aliado e, sim,  como concorrente em mobilidade social, nas vagas das universidades e dos concursos públicos. 

Um outro importante dilema é de quem ascendeu e agora desceu na era "mito", teve mobilidade social durante os governos petistas. A maioria dessa "nova classe média" passou se comportar tal como a classe média já existente, ou seja, ascendeu economicamente e não culturalmente, preservou então uma visão rasa do significado de emanciapação social e cultural, do que é ser parceiro na construção de  um país soberano, que respeita a liberdade e, que, sobretudo promove desenvolvimento priorizando a igualdade social. 

       

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