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Sabado, 27 de abril de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

30/09/2021 - 19h16

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

30/09/2021 - 19h16

Três anos depois do #ELENÃO

 

Há 3 anos um movimento encampado por mulheres em todos os cantos do Brasil e em vários países mundo à fora, tentava abrir os olhos da população para a catástrofe que seria o Brasil com Bolsonaro. 

No sábado, 29 de setembro de 2018, levamos milhões de pessoas às ruas no Brasil e em vários países. O movimento foi organizado por mulheres, mas contou com a adesão de todes os que consideravam forte o risco do Ur fascism com Bolsonaro no poder em nosso país. Fato que se confirmou e se transformou em nossa tragédia atual. Em 2020, o Brasil foi quarto país que mais se afastou do regime democrático no mundo ( https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56724695) .

Em Teresina éramos poucas mulheres na organização, mas juntas tínhamos a força de uma multidão e transformamos essa força em multidão. Fizemos uma linda passeada e um maravilhoso show que contou com dezenas de artistas e com a leitura do Manifesto que publicamos dois dias antes nesta coluna e no qual homenageamos todas as mulheres cis, bi, lésbicas, trans..   Foi emocionante, mas não foi suficiente. O mercado da desinformação já estava trabalhando a pleno vapor, e, embora tivéssemos consciência do que circulava, tendo em vista as fake News ridículas do kit Gay ou da mamadeira de piroca, nas quais muitas pessoas inacreditavelmente acreditavam, não tínhamos ideia do tamanho do mercado, não conhecíamos suas principais vias e fluxos, e, principalmente, não tínhamos ideia da lucratividade envolvida na produção e circulação de narrativas falsas, motivo pelo qual eu e dezenas de pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento, nos lançamos em investigações científicas não somente para compreender o fenômeno, mas para combate-lo.

O ano de 2018 é considerado um marco no cenário da desinformação no Brasil e as consequências da receptividade de tamanha produção desinformativa são vivenciadas hoje. Terminando o segundo ano do governo de Jair Bolsonaro, o projeto que se viabiliza pela desinformação e de desconstrução da Nação cavalga a passos largos e as consequências são sentidas com grande ênfase, por exemplo,  na destruição da Amazonas e dos demais biomas, não somente com o incentivo à práticas ilegais por parte de madeireiras e grandes agricultores, mas com incêndios orquestrados e com legislação  perniciosa que nos levará a um caos ainda maior. Os povos indígenas são tratados como inimigos do Estado e uma legião de neoevangélicos tenta de todo modo fazer lavagem cerebral para transformar os povos tradicionais em autômatos da palavra de um Deus que não é o seu, até que recentemente, o STF necessitou intervir e proibir tais pregações. 

Na área da saúde não somente vivenciamos ainda momentos fortes de uma pandemia que se arrasta e que em nosso país é cenário tanto de uma tragédia de proporções inimagináveis, visto que nos aproximamos dos 600 mil mortos por Covid-19, mas também de corrupção embrenhada nos aparelhos do desgoverno e nos tentáculos privados que usaram o povo brasileiro como cobaia para testes clínicos, como os procedimentos recentemente denunciados e concernentes à Prevent Senior e sua relação direta com o Gabinete Paralelo no Ministério da Saúde. Isso sem falar da tentativa que não logrou êxito por força da pandemia, e que de cunho neoliberal, pretendia privatizar o SUS-Sistema Único de Saúde.
 
A economia é outro grande desastre, com fuga em massa de capitais, queda das bolsas de valores e dos investimentos, aumento dos preços da energia, combustíveis e itens da cesta básica, sem contar o valor da carne que agora é artigo de muito luxo. Parte do povo brasileiro está na fila das ossadas e outra nem ovo tem para comer. Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional cerca de 19 milhões de brasileiros estavam em situação de absoluta insegurança alimentar no final de 2020.

Os desastres do desgoverno não param por aí. Para além do genocídio atingido com a potencialização da Covid-19, a partir de incentivos absurdos ao não uso de máscaras, contra a política de distanciamento e isolamento social nos momentos iniciais da pandemia em 2020; as práticas perniciosas do governo atingem a tudo o que se tinha trabalhado em termos de acessibilidade. Nesse sentido, no ambiente da educação, recentemente, o governo vetou a inscrição gratuita de jovens carentes ao ENEM 2021 que não justificaram a falta em 2020 por conta da pandemia, medida somente revertida por ação judicial (https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2021/09/inscricao-enem-sem-taxa-ate-dia-26/ ). Também vetou projeto que assegurava  a gratuidade do acesso à internet para alunos e professores carentes (https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/03/19/bolsonaro-veta-integralmente-projeto-que-assegura-internet-gratis-a-alunos-e-professores-da-rede-publica.ghtml ).Os recursos para as agências de fomento à pós-graduação e à pesquisa no Brasil, assim como, para as universidades federais públicas foram drasticamente reduzidos. 

Há alguma coisa boa no governo atual? Não conseguimos identificar. Em alta mesmo só a violência, com a população civil cada vez mais armada e cujas armas terminam nas mãos do tráfico e dos marginais. A violência contra as mulheres em todos os níveis  cresceu em 20% das cidades durante a pandemia, mas também, contra os idosos, crianças e adolescentes, conforme pesquisa da Confederação Nacional de Municípios-CNM disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/violencia-contra-mulheres-cresce-em-20-das-cidades-durante-pandemia  

Em alta também a inflação com o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo-IPCA de setembro de 2021 sendo apontado como o maior desde o Plano Real de 1994(https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/24/ipca-15-previa-da-inflacao-acelera-para-114percent-em-setembro-aponta-ibge.ghtml ) e tendo a gasolina e a energia como as grandes vilãs, que na verdade são cobaias da total situação de ausência de gestão econômica no atual governo, que optou por manter a população longe do poder de consumo, reduzindo direitos trabalhistas, oportunidades e com  investimento no fosso social que se coloca como um abismo por onde cresce a violência. 

Já no Relatório dos Mil Dias, o governo investe novamente em fake News, coloca entre seus grandes feitos o Auxílio Emergencial que foi obrigado a pagar por ação do Congresso Nacional, elenca a vacinação como grande realização, só esquece de mencionar que foi realizada a contra gosto do Chefe máximo da Nação que ainda hoje não se vacinou e faz propaganda contrária, incentivando à desinformação produzida pelo movimento lucrativo antivacina. 

Diante de tudo isso, a única justificativa que encontramos para que parte da população brasileira ainda o apoie é a força do mercado da desinformação que corre pelas redes sociais e aplicativos de mensagens e tem grande poder nos canais evangélicos e de outras religiões, proibindo muitas vezes, que a população acesse o jornalismo e venha até os fatos. Embora estejamos cientes que o não querer saber é uma escolha que está relacionada a valores e crenças arraigados.
 
Por fim, vale ressaltar que 2018  foi um marco no ecossistema da desinformação no Brasil, superado por 2020, no entanto, vem aí 2022, mas há uma luz no fim do túnel, visto que conforme o Digital News Report 2021 realizado pelo Instituto Reuters e Universidade de Oxford (https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2021), 82% dos brasileiros estão preocupados com a desinformação. Vale ressaltar também #ELENÃO  e seus valores de um esgoto subterrâneo por onde só corre o mal:_ nem ontem, nem hoje e nem amanhã. 

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