Certeiro como uma bala perdida, Millôr Fernandes afirmou: “Se você não consegue realizar seus sonhos, tente realizar seus pesadelos”. Cáustico, mas verdadeiro.
Hoje, o pesadelo me alcançou antes do café da manhã: dileta amiga me mandou um vídeo postado pelo vereador Fernando Miranda sobre a destruição definitiva do Ninhal das Garças em Campo Maior. Por razões que ignoro (a Natureza certamente sabe), a garças escolheram o local para nidificar. Estavam lá há muito tempo. O espaço tornou-se uma espécie de cartão-postal da cidade. Não eram poucas as pessoas que paravam no local para fotografar o espetáculo da vida em ebulição...
Infelizmente, as aves "esqueceram-se" de combinar com os “proprietários” do terreno, que deflagraram uma guerra sem trégua contra elas. Primeiro, tentaram enxotá-las com foguetes, no final das tardes e ao amanhecer. Não deu resultado. Mandaram cortar parte da vegetação, nada. Resilientes, as garças não desistiram do ninhal. Decidiram atear foto na vegetação, já pobre e rala, e as aves não fugiram. Finalmente, mandaram passar um trator destruindo tudo.
Até aí, tudo muito previsível: o terreno é valioso. O problema é que a área estava “protegida” por lei. Lei Ordinária Nº 12/ 2019, cujo Artigo 1º reza: “Fica criado o “Parque das Garças, com extensão de 01 (hum) hectare, localizado na BR 343, no KM 267, entre a Av. do contorno e a AL Luiz Gonzaga de Oliveira, Mucuripe, Campo Maior -PI”. Pela lei, a Prefeitura desapropriaria a área para a criação do Parque. Uma lei realmente “ordinária”, muito ordinária: letra morta.
À época, como presidente do Conselho Estadual de Cultura, fui a Campo Maior, com alguns conselheiros, participar de uma audiência pública na Câmara Municipal do município. Lá estavam, além do poder legislativo, o secretário do meio ambiente, o Ministério Público, políticos, jornalistas, e “o povo em geral”. Choveram discurso, promessas, insultos, agressões e tudo mais. Depois, um “almoço de reconciliação” e “até a próxima”. Venceu o poder econômico.
Como cidadão comum, fiz o que me cabia: mostrei, denunciei, cobrei das autoridades competentes. Fiz pelo menos três matérias para a TV. Não pude evitar o inevitável.
De tudo, sobrou uma pequena alegria: os criminosos não conseguiram cortar as asas das garças....
*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Hoje, o pesadelo me alcançou antes do café da manhã: dileta amiga me mandou um vídeo postado pelo vereador Fernando Miranda sobre a destruição definitiva do Ninhal das Garças em Campo Maior. Por razões que ignoro (a Natureza certamente sabe), a garças escolheram o local para nidificar. Estavam lá há muito tempo. O espaço tornou-se uma espécie de cartão-postal da cidade. Não eram poucas as pessoas que paravam no local para fotografar o espetáculo da vida em ebulição...
Infelizmente, as aves "esqueceram-se" de combinar com os “proprietários” do terreno, que deflagraram uma guerra sem trégua contra elas. Primeiro, tentaram enxotá-las com foguetes, no final das tardes e ao amanhecer. Não deu resultado. Mandaram cortar parte da vegetação, nada. Resilientes, as garças não desistiram do ninhal. Decidiram atear foto na vegetação, já pobre e rala, e as aves não fugiram. Finalmente, mandaram passar um trator destruindo tudo.
Até aí, tudo muito previsível: o terreno é valioso. O problema é que a área estava “protegida” por lei. Lei Ordinária Nº 12/ 2019, cujo Artigo 1º reza: “Fica criado o “Parque das Garças, com extensão de 01 (hum) hectare, localizado na BR 343, no KM 267, entre a Av. do contorno e a AL Luiz Gonzaga de Oliveira, Mucuripe, Campo Maior -PI”. Pela lei, a Prefeitura desapropriaria a área para a criação do Parque. Uma lei realmente “ordinária”, muito ordinária: letra morta.
À época, como presidente do Conselho Estadual de Cultura, fui a Campo Maior, com alguns conselheiros, participar de uma audiência pública na Câmara Municipal do município. Lá estavam, além do poder legislativo, o secretário do meio ambiente, o Ministério Público, políticos, jornalistas, e “o povo em geral”. Choveram discurso, promessas, insultos, agressões e tudo mais. Depois, um “almoço de reconciliação” e “até a próxima”. Venceu o poder econômico.
Como cidadão comum, fiz o que me cabia: mostrei, denunciei, cobrei das autoridades competentes. Fiz pelo menos três matérias para a TV. Não pude evitar o inevitável.
De tudo, sobrou uma pequena alegria: os criminosos não conseguiram cortar as asas das garças....
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