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Quinta-feira, 31 de outubro de 2024
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Deusval Lacerda

deusvallacerda@bol.com.br

28/09/2015 - 09h30

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Deusval Lacerda

deusvallacerda@bol.com.br

28/09/2015 - 09h30

Floriano: Usina Electrica

O dia 23 de setembro do corrente ano foi bastante significativo para mim. Foi data em que foi reaberto ao público florianense o Espaço Cultural Maria Bonita, cuja reforma foi executada pela Secretaria de Estado da Infraestrutura (SEINFRA) e a equipagem foi realizada pela Secretaria Estadual de Cultura. Estive na solenidade como membro da SEINFRA capitaneada pela secretária Janaínna Marques.

 

Pois 44 anos atrás, mais precisamente no mês de julho de 1971, fui de São João do Piauí aos doze anos de idade passar férias na residência do meu tio José Moraes de Moura, mais conhecido como “Mestre Zeca”, exímio mecânico, na cidade de Floriano-PI.

 

Ele estava envolvido no desmonte do motor da antiga Usina Elétrica, pois Floriano já recebia energia da Hidrelétrica de Boa Esperança. Lembro-me que a Usina estava abandonada, com peças velhas, borrachas utilizadas, galões e tambores amassados, sujeira de graxa, buchas (estopas), verdadeiro ferro-velho, em lambuzada sem fim.

 

Embora deteriorado, impressionou-me o prédio, imponente, monumental. Construído em 1922, exibia fachada com traços desenhados e expressões arquitetônicas da época. Chamavam-me a atenção o tamanho e o peso das portas e do molho de chaves. Além de instalada na beira do rio, cenário deslumbrante para mim.

 

O “Mestre Zeca”, que Bruno dos Santos chamou de “gênio da arte mecânica”, tinha sua oficina e residência na margem da PI-140, na saída para Itaueira. E na Kombi vínhamos quase todos os dias para a Usina. No fim de semana, o dia todo. Eu e meus primos banhávamos no Rio Paranaíba, no Cais, já de concreto armado e parede de contenção. Eu admirava o Flutuante e adorava fazer refeição no Restaurante do Seu Gondim.

 

A tarefa para o meu tio era pesada. Ele meticulosamente desmanchava o motor parafuso por parafuso, porca por porca, arruela por arruela. Lembro-me que era bem fincado em sólida base de cimento e atarraxado. Mas ele cumpria pacientemente a missão de desmontá-lo peça por peça para ainda dar sobrevida às utilizáveis.

 

Foram 30 dias de férias marcantes. Achei a cidade movimentada. Depois, a Usina e sua engrenagem eram novidades para mim. Sempre ia á feira com tia Zulene comprar times de botão e revista Tex. Impressionou-me o prefeito ser um ex-vendedor de picolé, José Bruno dos Santos. A empresa de ônibus Estrela Dalva, por causa da minha irmã mais velha Dalva Maria. Os nomes dos carcamanos, como Arudá Bucar, pois soava diferente para mim. Os Laboratórios Sobral e Rocha, que fabricavam aguardente alemã, jalapa em pó, pílulas contra e quatro moura, utilizadas nas curas interioranas. E o nome da oficina do meu tio “A Mecantécnica: competência e precisão”, pois achava que o termo precisão era um aviso por necessidade de serviço.     

 

O tempo passou e, no último dia 23, como Superintendente de Obras e Serviços da Secretaria de Infraestrutura do Piauí, adentrei na velha Usina Elétrica e deparei-me com realidade diametralmente oposta a que vi e veio à minha lembrança 44 anos antes, em que se encontrava completamente descaracterizada e embrejada de óleo queimado.

 

Mas agora fazia parte da equipe do Governo do Estado para restaurar, revitalizar, dar vida nova à “Maria Feia”, como assim foi dito lá, uma vez que o Espaço Maria Bonita foi modernizado. Pois, além do Teatro e do Museu, conta ainda com espaço aberto para eventos. O Museu teve suas peças restauradas e catalogadas. O Teatro ganhou novas poltronas, carpete e climatização. O palco do espaço de eventos ganhou piso e outras adequações.

 

Apenas para ilustrar, o espaço cultural funciona na USINA ELECTRICA (Usina Maria Bonita), que antes era uma pequena capela, pertencente à Colônia de São Pedro de Alcântara. Com a desativação da capela e expansão do núcleo comunitário, em 1922, instalou-se uma máquina geradora de luz elétrica para cidade.

 

O nome Usina Maria Bonita, deve-se ao primeiro motor, de pouca potência, chamado “Lampião”. E que na década de 1950, quando o “Lampião” perdia a sua capacidade geradora, foi substituído por novo motor, que a população carinhosamente chamou de Maria Bonita, em novo apelido à Usina Elétrica.

 

Depois de 1971, a Usina ficou abandonada por vários anos e, por reivindicação da sociedade e da Associação Cultural de Floriano, o prédio foi restaurado em 1985 para abrigar o centro cultural da cidade. Ainda em 1985, o prédio passou a ser considerado patrimônio histórico. Mas voltou a entrar em decadência e só agora novamente foi resgatado, inclusive para realização do 4º Festival Nacional de Teatro (Pontos de Cultura e Grupos Independentes) que envolvem 23 espetáculos de várias regiões do País, com oficinas, palestras, workshops etc.

 

Acreditamos que louvável iniciativa chegou numa boa hora à Princesa do Sul, pois é conhecida a efervescência cultural de Floriano, por desfrutar de grande importância no cenário econômico-comercial, político, educacional e cultural do Estado do Piauí. Daí a sua tradição nas mais variadas áreas do conhecimento e da ALBEARTES (Academia de Letras e Belas Artes de Floriano e Vale do Parnaíba), transformando-se em polo indutor da intelectualidade mafrense, que, por isso, gerou a sensibilidade nas autoridades públicas para a reabertura do Espaço Cultural.

 

Por fim, Floriano se reencontra com sua USINA ELECTRICA – agora Espaço Cultural Maria Bonita – como ponto para apresentação das suas artes cênicas, graças ao governo Wellington Dias que tem compromisso com os valores, tradições e as manifestações culturais piauienses, sobretudo as representações populares, que tem como destaque a Festa do Rei Momo - o famoso Carnaval de Floriano - e a encenação da Semana Santa.  

 

*Deusval Lacerda de Moraes é economista

Deusval Lacerda*

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