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Quinta-feira, 25 de abril de 2024
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José Osmar

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

09/12/2017 - 18h59

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José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

09/12/2017 - 18h59

O ódio que destrói a nação

Desde a instauração da operação lava jato, em meados de 2014, que culminou com o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016, instaurou-se no Brasil uma espécie de leseira geral, em que não há quem possa, saiba ou queira redirecionar a nação.

Alguém que hoje nos olhasse de fora notaria a seguinte situação incompreensível: os homens e mulheres que têm a obrigação de conduzir os destinos do País parecem não saber que caminho tomar. À exceção do ex-presidente Lula, que aponta alguns caminhos aos brasileiros, e do deputado Jair Bolsonaro, que acena com a radicalização total do ódio, os outros personagens parecem tomados de uma paralisia coletiva que os impede de perceber o abismo no qual a nação se acha prestes a cair.

Tal observador haveria de se perguntar: Porque esses líderes se esforçaram tanto para assumir suas posições, se lhes faltam a aptidão natural para o exercício do poder e a grandeza moral para agirem como estadistas?

O Executivo, líder natural das ações, a quem caberia tomar a iniciativa de propor o grande concerto, está ocupado por um sujeito no qual ninguém confia, chegado ao governo por meio da traição à presidente com quem se elegeu vice, num arremedo de processo de impeachment,eivado de vícios jurídicos e decidido por “juízes” acusados de votarem a soldo. Ele próprio, o presidente, e os mais próximos de si, denunciados por corrupção, ele mais de uma vez. Portam-se no governo como ladrões que arrombam uma residência à noite e precisam se apropriar do maior número possível de bens encontrados na casa enquanto o dono ou a polícia não chegam. Na pressa, não se importam em manter a discrição: arrancam das paredes os quadros mais valiosos, danificando-os; roubam as joias arrebentando as gavetas com as próprias mãos, indiferentes às digitais que deixam por toda parte.

O Poder Legislativo é dirigido por dois homens de pouca estatura política, ambos também acossados por denúncias de corrupção, líderes de um bando de deputados e senadores agiotas de “seus” mandatos, vendidos ao Executivo em troca da aprovação de toda e qualquer proposição tendente a estraçalhar os direitos dos pobres, a aumentar o poder dos ricos, a salvar o presidente da guilhotina judicial.

O Judiciário, por sua mais alta instância, o Supremo Tribunal Federal, composto por nove homens e duas mulheres – uma que o dirige -, é incapaz de apontar no sentido de recolocar o País no caminho do estado democrático de direito. Suas decisões são erráticas: ora condena com base numa teoria alienígena (domínio do fato), renegada pelo seu próprio criador; ora aplica de forma diametralmente oposta a mesma lei a casos idênticos; ora nega direitos universalmente consagrados, a exemplo da aceitação da prisão do réu antes da sentença condenatória transitar em julgado, numa afronta inominável à Constituição, a que deveriam defender.

O Ministério Público, alçado em 1988, na prática, à condição de Poder, segue também um caminho esquizofrênico. Cada um em seio meio é tudo em si mesmo; cada um de seus membros é uma ilha, dizendo e fazendo o que bem entende, em nome próprio, como se fosse ele mesmo a instituição. “Tempos excepcionais exigem um direito excepcional”, sustentam os promotores, com a concordância tresloucada dos tribunais. O combate à corrupção virou uma panaceia, uma religião exótica que nos salvará da danação eterna, sendo a lava jato sua sacerdotisa incontrastável. Quem levanta a voz contra ela sofre excomungação imediata.

Mas, se observar com calma, o nosso alienígena descobrirá que a tolerância de nossas autoridades e de parte do povo com essas inimagináveis atrocidades jurídicas e morais praticadas no âmbito e em razão da lava jato nada mais é do que o reflexo, materializado, do ódio que nutrem contra um partido político e tudo o que ele representa.

Uma pergunta se impõe, no entanto: valerá a pena destruir a democracia, a economia, o estado de direito e a paz social em nome desse ódio? A história mostra que não. E o exemplo mais candente de que nada disso vale a pena é o caso alemão: o apoio ou a indiferença que os alemães devotaram às atrocidades nazistas, alimentadas pelo ódio a um grupo étnico (judeus), levou ao desastre da segunda guerra mundial e aos campos de extermínio, desgraças pelas quais o povo alemão paga um preço financeiro e moral até hoje. Quem tem ouvidos de ouvir que ouça!
 

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