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VC no Acesse

acessepiaui@hotmail.com

23/11/2017 - 09h15

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VC no Acesse

acessepiaui@hotmail.com

23/11/2017 - 09h15

Mi-mi-mi ativista e a tristeza epidêmica da ursa Marsha

 

A ignorância é perversa. Entenda-se por ignorância a falta de conhecimento. Se bem que deveria falar em estupidez: qualidade de quem, mesmo sabendo que não domina um assunto, espalha a ignorância com a autoridade de um Ativista*. 

 

(*Ativista: ser cultivado no oportunismo, que encontra em mentes vazias e corpos ociosos um ambiente fértil para se desenvolver.)

 

Não conheço ninguém especializado em ursos. E acho que nem mesmo biólogos e veterinários do Brasil devam ser especialistas. O Brasil não é lugar de ursos. Mas isto não impede que os animais vivam aqui. Pelo menos em santuários e zoológicos se tem notícia de alguns com mais de trinta anos. Isto é fato.

 

Ignorância é afirmar que eles vivem triste. Como a ursa Marsha do zoológico de Teresina; do urso Pizza da China, intitulado o mais triste do mundo; título aliás usurpado do urso Arturo, que morreu em 2016 aos 30 anos de causas naturais no zoológico de Mendonza na Argentina.

 

Eu mesmo quase sucumbi ao mi-mi-mi e nhem-nhê-nhem dos Ativistas* quando vi as fotos da Marsha. Aquela carinha de tristeza, comovente!

 

Com a inquietação própria de jornalista, decidi que escreveria sobre o assunto defendendo uma espécie de Prozac ou Lexotan para a coitada. Ia enfileirar-me no coro dos que pedem a transferência dela para outro cativeiro com nome mais sofisticado.

 

Qual não foi a surpresa ao descobrir que tristeza de urso é epidêmica. Minto. Epidêmica é a aparente tristeza dos ursos... dos ursos, perceberam? Pois é. Todo urso tem a cara triste ou de ferocidade quando mostra os dentes pontiagudos. Só existe urso alegre ou com qualquer outra expressão inadequada para ursos nos desenhos animados.

 

Ainda duvidando, varei a noite buscando a literatura especializada para tentar desmentir esta minha descoberta. Decepção total. Em Charles William Beebe, biólogo americano e explorador, com várias livros e contribuições para a National Geographic Magazine, encontrei a afirmação: “a vantagem de trabalhar com animais é que você nunca sabe se ele está triste, alegre, agradecido ou chateado com as decisões humanas. À exceção do cão, que está sempre te cortejando para ganhar atenção, e do golfinho que tem uma expressão sempre alegre até quando morto com violência.” Estudioso e atento, o cientista também deixou escrito que o animal muda de comportamento quando está doente ou velho, mas nunca de expressão facial, porque desprovido de músculos importantes e em quantidade estratégica que só os humanos têm. 

 

O naturalista e biólogo alemão Johann Friedrich von Eschscholtz foi mais preciso sobre a cara dos ursos, ao recomendar cuidados para seus alunos que o ajudavam nas pesquisas de campo: “Urso é naturalmente triste. Não se deixe levar pela sua expressão carente. Ele é perigoso quando está com fome ou com as crias por perto”.

 

Aprendi também, nos manuais de criação e manejo de animais, editados por veterinários, que gato e cachorro, por exemplo, podem ter lágrimas. Mas o veterinário aconselha que, ao invés do “senhor” e dono interpretar como tristeza, e dar presentes para alegrá-los, é melhor ir numa clínica. Porque pode ser uma série de patologias.
 

A carinha da Marsha quase me engana. Mas é a mesma cara desse amiguinho ( da foto acima ) em seu habitat.

 

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Marcus Cavalcante é Jornalista - nas redes sociais. 

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