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Sexta-feira, 26 de abril de 2024
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Gorete Gonzaga

Gorete Gonzaga

gonzagagmaria@gmail.com

30/01/2018 - 20h51

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Gorete Gonzaga

gonzagagmaria@gmail.com

30/01/2018 - 20h51

Pois paz sem voz, não é paz. É medo

Massacre a Lula para vencer a resistência de um povo

 Massacre a Lula para vencer a resistência de um povo

Hoje, 30 de janeiro, eu queria falar de Gandhi, sua história, toda sua luta e os ensinamentos que nos brindou. Seria uma bela coluna, em honra ao inspirador da Cultura de Paz e da Não Violência. Mas, intranquila, minha alma não deixa que meus dedos escrevam palavras bonitas agora. “A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego, pois paz sem voz não é paz é medo.” (Marcelo Yuka, outro pensador que merece reconhecimento!) Do cômodo sossego daqueles que assistem zumbizados o desmoronamento moral do Brasil.

O recente Dia 24 de janeiro, palco de um julgamento verdadeiro escárnio social, deixou-me gravemente inquieta e indignada.

Nas palavras do colunista Ricardo Cappelli (Brasil 247) registra-se perturbadora explicação para tal inquietação: “não foi o homem Lula que foi condenado e sim o ser histórico e seu papel”. Acrescentemos: não só o histórico, mas também o ser que ousou interpor-se entre o desamparo dos mais pobres e a ganância dos poderosos.  

O que foi e tem sido condenado pela justiça funcional brasileira é aquilo que podemos tentar simplificar como sendo a visão de mundo que se atreveu a redesenhar a Nação com traços mais fortes de igualdade que permitiram diminuir as diferenças, ampliando fronteiras e oportunidades para milhares antes apartados. Traçado de um País internamente viável e internacionalmente meritoso.   

Tal execração pública de um só homem não é aleatória e sem propósito. Tio Sam não chuta cachorro morto. Na próxima vez em que enviarem nossas crianças para férias no maravilhoso mundo encantado da total aculturação, peça-lhes que indaguem por lá porque se dedicam tanto a enfraquecer o Brasil (e qualquer outro país insurgente), apostando em marionetes débeis de moral que estão na nossa política, nos governos, nos comandos das ideias e das ações do País.

E não se trata de uma vingançazinha dos “Estates of America”. Isso é coisa para amadores. O plano é extirpar de vez essa mania de grandeza, essa ideia que o povo brasileiro tem alimentado de se achar autossuficiente - decidir o que comer, pensar e vestir.

O B dos BRICS até imaginou, por um tempo, ser capaz de recorrer a outras fontes financeiras que não fosse o FMI! Uma empáfia! Atrevimento de quem provando ideias perigosas, no mínimo.

Não é exatamente Lula que está sendo colocado fora do jogo (e as eleições não são o fim, apenas mais um meio). A ideia de um impávido colosso Brasil soberano precisava ser removida do cenário. O gigante mostrava-se altivo, não se curvando mais à vergonhosa condição de depósito para desova dos dejetos e superfluidades industriais dos grandes mercados mundiais.

 
Gandhi. Também injustiçado por insurgir-se contra o consumo e desejar libertar seu povo

Para vencer tamanha resistência, precisa-se de mais gente acreditando em segregações por aqui, mais gente intolerante, mais gente disposta a lutar por privilégios de uns somente. Requer-se uma massa humana extremamente individualista, indiferente e bem vacinada contra o discurso “de mundo melhor e igual para todos e todas” - aquilo que chamamos Direitos Humanos e pelo que Gandhi tanto lutou.
Robotizadas e satisfeitas, pessoas assim são uma mão na roda para as metas do consumo e muito contribuem no combate aos que se insurgem contra o sistema selvagem e despiedado.

Pobre dessas pessoas.  Algozes e vítimas ao mesmo tempo. Serão a sobremesa do capitalismo, tão logo ele remova o último obstáculo representado pela resistência de um povo convergida em Luís Ignácio Lula da Silva!

Lula desperta a multidão. Mas, para o capitalismo é vital a alienação generalizada. Não quer que você entenda de política e nem de nada mais, a calcular pelo desmantelo do ensino. A verdade é que, desde os tempos de Platão, já se sabe que “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”... (agora robots virtuais vão contestar dizendo que Platão é uma farsa da esquerda, injuriar sua memória, assim como achicanaram ninguém menos que Paulo Freire para meter Alexandre, o grotesco, na educação do país).

Ainda estamos por encontrar, como Gandhi, lá na Índia, e Lula, na Terra Adorada, alguma forma de nos libertar dessa engrenagem. Tudo não passa de um grande negócio. Business precisa de consumo, de zumbis e explorados para alimentá-los.

O problema é que o sistema bugou de novo e o metalúrgico emprestou sua ousadia à Nação adormecida. Protetor dos explorados, ele tenta pacificamente salvar aos zumbis também. É duramente alvejado. Marcado para abate em praça pública. Velha tática do Império, em tempos do terror, como lição à nova geração de Zé Carioca!

Mas, desta feita, claro, vão fazer também um vídeo e subir para bombar nas redes sociais. Com seu moderno aparelho último lançamento cheio de novas funções ocultas capaz de substituir seus olhos e sua mente, dando verdadeiro sentido à sua entorpecida existência, um zumbi chega até se iludir estar vivo, viralizando a mídia!

Feliz Dia da Não Violência! Fique em paz. E que nada nem ninguém lhe obrigue, em momento algum, a sentar-se no banco de réu, num julgamento de conjecturas.

 

Ricardo Stucker

Tags: Lula Gandhi

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