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Sabado, 04 de maio de 2024
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Gorete Gonzaga

Gorete Gonzaga

gonzagagmaria@gmail.com

19/03/2018 - 17h04

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Gorete Gonzaga

gonzagagmaria@gmail.com

19/03/2018 - 17h04

Obituário DDH: crônica de mortes anunciadas I

"Há aqueles que estão vivos, mas nunca vivem. Existem aqueles que estão mortos, mas viverão para sempre. Grandes atos inspiram e encorajam a vida".

Assassinatos e desaparecimentos forçados daqueles que defendem direitos humanos

 Assassinatos e desaparecimentos forçados daqueles que defendem direitos humanos












Ricardo Pugong Mayumi


País: Filipinas. O ativista indígena e ambiental dedicou sua vida a defender a terra, a vida e os recursos do povo Tinoc Kalanguya nas Filipinas. Crítico proeminente da Quadriver Mini Hydro Dam e líder do Movimento Camponês Ifugao, o Mayumi, de 52 anos, foi assassinado por dois homens, dentro de sua casa, em 2 de março de 2018.


Nilce (Nilcinha) de Souza Magalhães


País: Brasil. Líder do Movimento das Pessoas Afetadas pelas Barragens (MAB), ela criticou as violações dos direitos humanos cometidas pela Sustainable Energy Brazil (SEB), a organização por trás da consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) na construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, Porto Velho. Nilcinha desapareceu em 7 de janeiro de 2016 e seu corpo foi encontrado por trabalhadores da energia elétrica em 21 de junho de 2016, no reservatório de Jirau.
 
Claudio (Pocho) Lepratti


País: Argentina. Estudante de Direito, Seminarista e ativista social, fazia trabalhos voluntários em hospitais e casas de acolhimento de crianças em situação de vulnerabilidade. Ficou conhecido, após sua morte, como «El Ángel de la Bicicleta». Pocho foi executado com tiros de escopetas, pela Policia da Província de Santa Fé, no dia 19 de dezembro de 2001, quando subiu ao teto de um comedor popular que alimentava crianças carentes, gritando:  baixem as armas que aqui só tem crianças comendo!
 
Halla Barakat


País:Turquia. Em 21 de setembro de 2017, o defensor dos direitos humanos sírio, Orouba Barakat e sua filha, a jornalista, Halla Barakat, 23 anos, foram encontrados mortos, por esfaqueamento, em sua casa, em Istambul. Barakat produziu numerosos documentários e entrevistas em inglês e árabe sobre os massacres de prisões realizados pelo regime de Assad. Sua filha, Halla, estava trabalhando como editorado site pró-oposição Orient News.
 
Anna Politkovskaya


País: Rússia. No dia 7 de Outubro de 2006, Politvoskaya, 48 anos, foi morta a tiro, na porta de sua casa. Jornalista, estava investigando a tortura na Chechénia para o jornal Novaya Gazeta. Em 24 de Novembro de 2006, dois colegas do mesmo jornal que investigavam o seu assassinato receberam ameaças de morte. Alexander Litvinenko, muito crítico do regime de Vladimir Putin e dissidente dos serviços de informações russos, foi envenenado com tálio enquanto investigava a morte da jornalista. Apesar das reiteradas ameaças de morte que recebeu até sua morte, Anna Politkovskaya sentiu que era seu dever continuar denunciando o sofrimento de milhões de russos sob a governação de Vladimir Putin.
 
Irmã Dorothy Mae Stang


 

País: Brasil. A freira americana que se tornou cidadã brasileira naturalizada, Dorothy foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, depois de ser atingida por seis tiros dentro de Esperança, uma reserva do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), na Amazônia.  Ela defendia os pobres e o meio ambiente. Antes de seu assassinato, ela havia recebido ameaças de morte de madeireiros e proprietários de terras
 
Hande Kader


 
País: Túrquia. No dia 12 de agosto de 2016, um corpo mutilado e queimado foi encontrado em uma área residencial sofisticada em Istambul. Era a famosa transgênera, de 23 anos, e ativista LGBT. Ela havia sido repetidamente estuprada e torturada por uma gangue. Kader era familiar para milhões de turcos por sua corajosa resistência contra a força policial, que reprimia, com balas de borracha, canhões de água e spray de pimenta, o desfile do Orgulho Gay de Istambul, em 2015.
 
Naw Chit Pandaing


País: Birmânia. Em 19 de novembro de 2016, Nal Chit Pandaing, ativista ambientalista de Karen. Uma menina de 22 anos, esfaqueada por um indivíduo não identificado, em um evento de arrecadação de fundos. Naw Chit Pandaing, também conhecida como "Eh Paw Tel", era ativista do direito humano e trabalhava para o Mine Advisory Group (MAG), uma ONG internacional que ajuda pessoas afetadas por minas terrestres, munições não detonadas e armas pequenas e armas ligeiras. Antes de sua morte, Naw Chit Pandaing fazia forte oposição e denúncias das violações dos direitos humanos, o confisco de terras e os impactos negativos da mineração em seu país.
 
Shahid Azmi

 
País: Índia. Shahid Azmi, 32 anos, advogado de direitos humanos de Mumbai, na Índia. Ele defendeu vários muçulmanos acusados ​​falsamente de delitos relacionados ao terrorismo. Os suspeitos em casos relacionados ao terrorismo na Índia freqüentemente têm dificuldades em encontrar quem lhes defenda, já que os advogados enfrentam ameaças e insultos por isso, no país. Em 1999, Azmi foi acusado de participar de um plano para matar políticos proeminentes de Mumbai e passou cinco anos na prisão, submetido à tortura e outros maus-tratos. Em 11 de fevereiro de 2010, quatro homens armados entraram em seu escritório e atiraram à queima-roupa, matando-o instantaneamente.
 
Htay Aung


País: Birmânia. O defensor dos direitos humanos birmanês morreu em um hospital, no dia 1 de novembro de 2017, após ser atacado e espancado por um grupo de 20 pessoas (em 28 de outubro de 2017), à caminho de uma de reunião. Ele era um defensor dos direitos da terra e membro do National Farmers’ Union of Myanmar - grupo ativista no combate à grilagem e disputa de terras no país. Htay Aung estava ajudando os aldeões a recuperar 346 hectares de terra em conflito de disputa desde 1997.
 
Chico Mendes


País: Brasil. "Chico gostava muito de dominó, ele estava jogando desde as quatro da tarde e, às seis e meia, pedi-lhe que parasse para servir o jantar, então ele se levantou da mesa e disse que ia tomar banho e me perguntou se poderia usar a toalha que eu tinha dado a ele no seu aniversário, eu disse que sim, pegou a toalha e foi até a porta, abriu uma fenda, viu que estava escuro e voltou, pegou uma lanterna, abriu a porta e dispararam nele.” (Ilsamar Gadelha, esposa de Chico Mendes). Chico Mendes lutou a favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência dependia da preservação da floresta e das seringueiras nativas. Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, ao mesmo tempo em que provocou a ira dos grandes fazendeiros e das grandes corporações que que ainda hoje seguem matando na Selva.
 
Alberto Nisman


País: Argentina. O Corpo aparece no banheiro, travando a porta. Suicidio aparente. Contudo, após anos de polêmica e contradições, relatório de 24 técnicos da Gendarmeria Guarda Nacional concluiu que o promotor Alberto Nisman foi assassinado com tiros na cabeça, no dia 18 de janeiro de 2015. Nisman teria recebido soco na cara e no fígado, foi forçado a consumir dose alta de cetamina e baleado na cabeça, sendo depois levado até o banheiro, cena do suposto suicídio. O promotor portenho se preparava para apresentar o congresso argentino um relatório que acusava a então presidente Cristina Kirchner de encobrir as investigações do atentado à bomba na Amia (Associação Mutual Israelense Argentina), em 1994, que matou 85 judeus em Buenos Aires.
 
Marielle Franco


 
País: Brasil. “Talvez o caso da juíza Patrícia Acioli possa ajudar a entender o caso da vereadora Marielle Franco.  A juíza, que havia condenado 60 PMs cariocas por assassinatos, foi executada, em 2011, nas proximidades do Rio de Janeiro, dentro do seu carro. A quem interessava sua morte? A investigação concluiu que os autores do atentado foram 11 PMs que ou temiam ser os próximos denunciados ou queriam proteger seus colegas de farda contra novas condenações da juíza. Além de silenciá-la para sempre também passaram recado aos outros juízes: olha o que pode acontecer se você fizer o mesmo que ela.” (Alex Solnik, jorn.)

A violenta execução de Marielle Franco, socióloga, feminista, militante dos direitos humanos e política brasileira, aconteceu na semana passada (14 de março de 2018), deixando em exposição a sangrenta ferida brasileira do desrespeito aos direitos humanos, sociais e à vida - que a impunidade tem alimentado.

Mississipi em chamas


 
País: EUA. Andrew Goodman, James Earl Chaney e Michael Schwerner desapareceram em 21 de junho de 1964, quando investigavam o incêndio numa igreja frequentada por negros. Seus corpos foram encontrados semanas depois, numa barragem perto de Filadélfia. O assassinato dos três ativistas (em uma conspiração do Ku Klux Klan) desencadeou uma investigação de 52 anos, oito condenações e uma confissão. Um dos mandantes do crime, Edgar Ray Killen, está detido. As mortes dos três jovens provocaram indignação nacional e ajudaram a estimular a passagem da Lei de Direitos Civis de 1964. A tragédia de desrespeito aos direitos humanos e à vida foi tema do filme "Mississippi em Chamas". Familiares das três vítimas do racismo e da violência norte-americana disseram, recentemente, que o foco não deve ser apenas sobre os três homens, mas sobre todas as pessoas mortas ou feridas enquanto buscam justiça.

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