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Segunda-feira, 20 de maio de 2024
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José Osmar

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

27/05/2019 - 17h40

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27/05/2019 - 17h40

IMPRESSÕES DE UMA VIAGEM A CUBA (Capítulo II)

A primeira parada seria Trinidad, cidade histórica às margens do Mar do Caribe, com aproximadamente 60 mil habitantes...

Autoestrada (carreteira) de Cuba: excelente asfalto, seis pistas e pouco tráfego.

 Autoestrada (carreteira) de Cuba: excelente asfalto, seis pistas e pouco tráfego.

No mês de março deste ano fiz minha primeira viagem a Cuba.

O capítulo anterior dessas “Impressões” se encerrou quando inciávamos (eu e a Edileuza, minha mulher) nossa viagem rumo ao Sul da Ilha, saindo de Havana, no GOL GTI 1992 do Yuri, nosso motorista. A primeira parada seria Trinidad, cidade histórica às margens do Mar do Caribe, com aproximadamente 60 mil habitantes, localizada na Província de Sancti Spíritus.

Cuba tem 11,5 milhões de habitantes em pouco mais de 110 mil Km², divididos em 15 províncias (estados) e 169 municípios, incluindo o Município Especial de Nueva Gerona, na Ilha da Juventude (o Piauí tem 251 mil km² e uma população de 3,2 milhões de habitantes).

A distância entre Havana e Trinidad é de cerca de 320 km, vencidos em sua maior parte por uma carreteira(autoestrada) de seis pistas bem conservada e por uma estrada secundária de mão dupla, com quase nenhuma sinalização, mas sem buracos na pista. Yuri, o motorista, tinha a preocupação de que não viajássemos à noite, justamente pela sinalização deficiente das estradas cubanas.

Ao entramos na carreteira, uma coisa chamou imediatamente a nossa atenção: o grande número de pessoas a pedir carona, algumas exibindo cédulas de dinheiro, como a dizer que pagariam pela carona. Há um deficit enorme no transporte público de Cuba. Fiquei muito incomodado com aquela situação, que me lembrou o interior do Brasil nos anos oitenta. Mas dessas coisas falaremos com mais vagar no capítulo sobre a economia da Ilha.

Apesar de tudo, viajar de carro pelo interior de Cuba é uma bela experiência. A paisagem se alternando entre o verde das palmas (espécie de palmeira, árvore símbolo do País), o cheiro doce das quase infinitas plantações de cana-de-açúcar (ah…, o maravilhoso rum cubano…), o aroma peculiar das folhas de tabaco de onde saem os famosos - e caros - charutos cohiba, as plantações de batata, banana, goiaba, laranja, verduras…

De repente, tínhamos fome. Era ali por volta das 14 horas. O Yuri, havanero de 42 anos, casado pela segunda vez e pai de três filhos, já mostrara ser bem mais do que um simples motorista: conhecia razoavelmente a história de Cuba, tinha sido marinheiro militar por dez anos e há oito era taxista em Havana, já fizera muitas viagens com turistas pelo País e nos dava sugestões do que seria interessante ver em cada cidade, além daquilo que já estava em nosso roteiro. Àquela altura, estávamos muito contentes. Ora, vejam só, havíamos contratado um táxi, um motorista e um guia por 80 dólares ao dia! Convenhamos, não foi um mal negócio.

Paramos na estrada num pequeno restaurante de três mesas para provarmos a comida crioula, que os cubanos comem no seu dia a dia: arroz congrí, tiras de porco assado, ou frango, e salada. Arroz congrí é o nosso baião de dois, porém, com feijão preto. Quando vi o que era, sentime no céu. Baião de dois, carne e salada é a minha comida favorita. Aproveitamos para tomar uma tukola, a coca-cola cubana (somente em dois países do mundo a coca-cola não está: em Cuba e na Coreia do Norte, por conta do embargo norte-americano). A Edileuza preferiu uma tukola light. Pagamos a conta: 2,5 CUC por prato e 1,10 CUC por refrigerante. Comida boa, farta e barata para os padrões cubanos. Foi nosso primeiro contato com um restaurante privado. Sim, eles existem agora em Cuba, poucos, mas estão lá. No capítulo sobre a economia da Ilha volverei ao tema.

De volta à estrada, passamos a costear o Mar do Caribe, com suas águas azul-turquesa, já nos aproximando de Trinidad. Então, uma imagem chocante: centenas de milhares de caranguejos atravessavam a estrada rumo ao mar. Os carros, por mais que tentassem, não conseguiam desviar, esmagando milhares deles. E mais não morriam porque o tráfego, já normalmente calmo nas estradas cubanas (faltam veículos em Cuba), naquela estrada secundária era ainda mais calmo. Nosso guia fez o que pôde para desviar seu “tanque” dos crustáceos, mas era impossível não matar alguns. Observando como os outros carros passavam a toda velocidade, vi no Yuri um conservacionista. Comentei minha impressão e ele nos disse o verdadeiro motivo de sua precaução: medo de furar um pneu nas patas gigantes dos carangueiros. Pneus para veículos são uma raridade em Cuba, e são muito caros. Sorrimos do ecologismo inusitado do Yuri, e eu reforcei minha convicção de que a natureza não tem muita chance quando disputa com a necessidade a atenção dos homens.

Não demorou muito e chegamos a Trinidad. No hotel (na verdade um hostal), uma boa surpresa: encontramos três brasileiras, nordestinas, professoras. Uma conversa agradável entre mojitos (pronuncia-se morritos), tragos de rum, macarrão e filés de peixe. Uma vida boa para os turistas, eu pensei… (Será que os cubanos tomam mojitos, bebem rum, comem filé de peixe?). Nosso guia arranjou local para dormir e recusou ir ao restaurante conosco.

(Continua no próximo capítulo...)

José Osmar

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