Facebook
  RSS
  Whatsapp
Segunda-feira, 13 de maio de 2024
Colunas /

Editorial

Editorial

contato@acessepiaui.com.br

17/09/2019 - 08h02

Compartilhe

Editorial

contato@acessepiaui.com.br

17/09/2019 - 08h02

O perigoso controle do "mito" das instituições de fiscalização

Uma parte dos apoiadores de Bolsonaro já demonstra incômodo pela interferência na Receita Federal, no Coaf, no MPF e na PF.

 

Bolsonaro está, aos poucos, comendo as instituições de fiscalização e controle da República em nome de seu projeto de poder e do bem-estar de sua família. Uma parte de seus apoiadores já demonstra incômodo pela desenvoltura com a qual interfere na Receita Federal, no Coaf, no Ministério Público Federal, na Polícia Federal - o que se traduz em queda de aprovação e ranger de dentes em redes sociais. Mas um naco continua botando fé, incondicionalmente e inacreditavelmente, que essas ações do “mito" visam a combater a corrupção e a proteger a Lava Jato.

Esse mesmo naco reclama do fanatismo de uma parte dos petistas quando o assunto é Lula, mas são incapazes de interpretar o mundo sem o gabarito dado por seu líder. Se o presidente disser que uma laranja é, na verdade, um abacate, eles prontamente vão para a rua, com faixas, bandeiras e camisas da CBF, dizer que sua guacamole jamais será vermelha.

A demissão do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, foi apenas o último lance de uma cadeia de eventos que perfazem um padrão. Oficialmente, ele caiu pela CPMF. Mas se essa fosse a única questão, o ministro da Economia teria dançado junto. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que criou dores de cabeça para o filho 01, o senador Flávio, foi transferido do Ministério da Economia para o Banco Central. Quem acompanha o Coaf tem dúvidas se o corpo técnico no Bacen, por mais qualificado que seja, é adequado para a tarefa.

A interferência na indicação de um novo procurador-geral da República, escolhendo alguém de fora da lista tríplice e crítico à operação Lava Jato, abespinhou a relação entre Poder Executivo e Ministério Público Federal. Bolsonaro também está tentando colocar uma pessoa próxima a ele para chefiar a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro e deve mudar o delegado-geral da instituição. A carta branca prometida pelo presidente a Sérgio Moro serve apenas para dizer "sim, chefe".

É de uma ironia fina que os bolsonaristas que bradam pelo fim da corrupção apoiam exatamente a pessoa responsável por limitar as instituições de combate à corrupção. Sim, seguidores de Bolsonaro, que criticam práticas fisiológicas da política, respaldam um político que, com suas ações, está garantindo que o fisiologismo continue alegre e saltitante.

Em manifestações, bolsonaristas e lavajatistas enchem infláveis de Sérgio Moro vestido de super-herói e denunciam que ele está sendo alvo de ataques, pedindo que Bolsonaro o proteja. Mas, paradoxalmente, um dos maiores ataques vem do próprio chefe - que quer cortar as asas do subordinado antes que ele resolva voar por conta própria. É passa-moleque atrás de passa-moleque. Nem as contundentes revelações da Vaza Jato têm sido tão devastadoras para a imagem do ministro quanto o presidente nas últimas semanas.

Poderíamos dizer que, no dia em que ficha cair para esse fãs, será tarde demais. Mas quem disse que a ficha vai cair um dia?

-------------
Leonardo Sakamoto é jornalista, no Blog do Sakamoto. 

Comentários