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Domingo, 19 de maio de 2024
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José Osmar

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

29/03/2021 - 08h17

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José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

29/03/2021 - 08h17

COMO ERAM GRANDES AQUELES DIAS!

 

Meus amigos, hoje (28/03) começou oficialmente a Semana Santa de 2021. Os evangelhos nos contam que num domingo de abril do ano 33 da nossa era JESUS DE NAZARÉ entrou em Jerusalém e declarou-se Rei. Foi realmente uma ‘declaração de guerra’, tanto para os judeus quanto para os romanos, que naqueles tempos dominavam Israel. Essa história todos nós sabemos no que deu: na sexta-feira seguinte o NAZARENO foi crucificado, e ressuscitou no domingo. Daí em diante, os cristãos passaram a reverenciar os dias dramáticos daquela semana memorável. A Igreja chamou-a de Semana da Páscoa, ou Semana Santa. 

Lembro-me de quando era menino, no interior de União. A Semana Santa era o acontecimento mais importante das nossas vidas. Todas as sextas-feiras da quaresma minha mãe rezava um terço lá em casa. Os vizinhos não faltavam. Minha mãe rezava sempre as “ave-marias” e as outras mulheres e as crianças, as “santa-marias”. Os homens ficavam em silêncio. Depois, tinha o café com bolo de goma. Uma beleza… Na semana anterior (a semana caçadeira) meu pai já tinha ido à cidade comprar as coisas da Semana Santa. 

Na segunda-feira os santos lá de casa amanheciam cobertos com um pano preto. Na terça-feira o papai e o meu avô iam à roça, apressados, fazerem os últimos trabalhos da semana. Traziam feijão novo, milho verde, melancia, melão, abóbora, maxixe, quiabo… Era tanta fartura naquela semana, que só podia ser mesmo uma semana santa. Na quarta-feira os adultos começavam a jejuar. Nada mais de comer carne. Eu gostava muito de levar os jejuns para os vizinhos. Era uma comunidade tão pobre, mas na Semana Santa ninguém passava necessidade. A partilha dos alimentos era uma experiência profundamente religiosa. Todos queriam mandar um jejum para os vizinhos: um pedaço de bolo de puba, uma caneca de murici, de moi de feijão novo, uma banda de abóbora taqueira, um pedaço de goiabada Palmeiron. 

O papai tirava as pilhas do rádio e só colocava na sexta-feira para ouvirmos a paixão de cristo na Rádio Pioneira. Que dramatização comovente! Minha mãe chorava, e eu, disfarçava. Nada de música, nada de alegria. O tempo era de tristeza e expectativa de que JESUS ressuscitasse. Nós não gostávamos dos judeus porque eles judiavam do filho de Deus, daí se chamarem ‘judeus’ - alguém nos disse. Coisa de criança. Na sexta-feira da paixão ninguém tomava banho durante o dia: sinal de respeito absoluto. Se mamãe nos visse cantando, nos repreendia imediatamente. 

Nos ‘dias grandes’, como eram chamados os dias da Semana Santa, os homens se reuniam lá em casa pela manhã e jogavam baralho, apostando caroços de milho. Minha mãe os reprovava duramente. Eles não estavam preocupados com o sofrimento de JESUS. Jogo é coisa do demônio, ela nos dizia. Na sexta-feira santa os homens não jogavam e o papai não fumava - um grande sacrifício para ele. No início da noite todos se reuniam novamente lá em casa para o último terço. Era um terço demorado, com muitos cânticos tristes, refletindo o clima pesaroso da morte de JESUS. “Quem essa reza rezar/quem ouvir e não aprender/lá em dia de juízo/muito é de se arrepender” - alertava um deles, o mais triste. 

O sábado amanhecia com o judas pendurado numa árvore, o bucho espocado mostrando as tripas de melão de são caetano. Fora devidamente malhado (surrado) por ter entregado JESUS aos judeus. À noite, tinha a tradicional festa do sábado de aleluia, animada pela banda do Antônio Cearense de José de Freitas. Domingo amanhecíamos alegres. O papai matava uma leitoa e nós comíamos carne novamente. Assim era a Semana Santa da minha infância. 

Olhando hoje para aqueles dias vejo que eles eram realmente “dias grandes”. 

FELIZ SEMANA SANTA PARA TODOS!!!

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