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21/06/2021 - 08h45

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21/06/2021 - 08h45

Brasil atinge 500 mil mortos por Covid em meio as sabotagens do presidente

Manifestação Nacional em Defesa da Vida do dia 19 de junho de 2021

 Manifestação Nacional em Defesa da Vida do dia 19 de junho de 2021

No sábado, 19 de junho, os brasileiros se deparam com a trágica marca de 500 mil mortos pela Covid-19. Desde maio do ano passado, o país entrou na lista das três nações com mais óbitos e nunca mais saiu dessa relação. 

Atualmente somos o segundo país em número de casos fatais, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro em número de casos confirmados, com Índia e EUA à frente, conforme o mapa global do novo coronavírus da universidade Johns Hopkins.

Mortes cresceram 10 vezes em um ano

Com medidas de prevenção insuficientes e a vacinação atrasada, o ritmo das mortes mostra a aceleração vertiginosa do contágio desde o início da pandemia. Em junho de 2020, o Brasil atingiu a marca de 50 mil mortes. Um ano depois, as vidas perdidas multiplicaram-se por dez.  

Desde o primeiro óbito, no ano passado, foram quase cinco meses para chegarmos aos 100 mil mortos. Demorou o mesmo período para o registro dos 200 mil, em janeiro de 2021. 

O próximo marco, de 300 mil vidas perdidas, chegou na metade do tempo: dois meses e meio. As 400 mil mortes vieram apenas 36 dias depois. Levariam mais 51 dias para chegarmos, nesse sábado (19/06), ao trágico número de meio milhão de perdas. 

Crise e colapso 

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mergulhava o país no caos, navegando entre o negacionismo, tratamentos ineficazes, disputas políticas com governadores, ataques à imprensa e isolando o Brasil no cenário internacional. 

O mandatário apostou, segundo analistas, na macabra tese da "imunidade de rebanho", ao desprezar inúmeras ofertas de vacinas, sabotar o isolamento social e promover o caos administrativo no Ministério da Saúde, na busca de um titular subserviente.

Estrangulado pela falta de planejamento e pelo teto de gastos, o Sistema Único de Saúde (SUS) deixou de promover a testagem em massa e o rastreamento da transmissão da doença - em que pese a dedicação extrema dos profissionais do setor. Medidas que, adotadas por outros países, salvaram milhares de vidas e frearam o avanço da doença. 

O resultado foi o colapso do sistema de saúde, com pessoas morrendo na fila do atendimento em hospitais superlotados. O conjunto das políticas federais empurrou de vez o país para uma crise sanitária, econômica, política, social e ambiental. 

O caminho do genocídio 

Antes dos 100 mil mortos, alcançados em 8 de agosto de 2020, Bolsonaro minimizou a doença, chamando-a de "gripezinha", e iniciou a contenda com governadores que se arrasta até hoje. Sem embasamento científico, começou a campanha de defesa à hidroxicloroquina. 

Ainda em março, no início da pandemia, recebeu e ignorou o primeiro dos inúmeros e-mail da Pfizer com oferta de vacinas.

O Brasil assistiu à queda de dois ministros da saúde e ao início da gestão do general Eduardo Pazuello, único que aceitou acelerar a produção nacional e distribuição de cloroquina.

Questionado sobre o crescente número de mortes, o presidente disse que não era "coveiro" e indagou: "e daí?".

No caminho para as 200 mil mortes, atingidas em 7 de janeiro, o presidente desdenhou do luto coletivo dos brasileiros e disse que deveríamos "deixar de ser um país de maricas". Comemorou a suspensão dos estudos da vacina pelo Butantan, celebrando a morte de um voluntário: "mais uma que Bolsonaro ganha".  

No dia em que foram registrados 4 milhões de infectados, declarou que sua estratégia de combate à pandemia "acabou dando certo".

Em 2 dezembro, quando foram contabilizadas mais de 174 mil mortes, o governo federal recebia - e ignorava - o último e-mail com ofertas de vacinas da Pfizer. 

Rumo às 300 mil vidas perdidas, patamar alcançado em 24 de março, a população de Manaus voltou a agonizar, desta vez por falta de oxigênio. Bolsonaro, que sabia da escassez do insumo oito dias antes do colapso, perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando" e disse que era preciso parar com "frescura" e "mimimi". 

Teve início um inconsistente processo de vacinação, marcado até hoje por falhas no planejamento e por promessas que não se concretizam.

Até 400 mil vítimas, marco registrado em 29 de abril, o presidente voltou a dar declarações defendendo a cloroquina e criticando o isolamento social. Temendo o resultado das urnas em 2022 e emparedado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia e pela crescente insatisfação popular, continuou fingindo preocupação em vacinar a população.

Perto das 500 mil, alcançadas nesse sábado (19/06), Jair Bolsonaro defendeu o fim do uso de máscaras para vacinados e quem já teve a infecção. O Brasil atingiu o menor índice de isolamento social desde o início da pandemia. "Idiotas" foi o termo utilizado pelo presidente para xingar aqueles que ficavam em casa como forma de ser proteger do contágio. 

Cidades brasileiras tiveram que interromper a vacinação com a Coronavac, após o Instituto Butantan paralisar o envase do imunizante por falta de insumos, em meio a uma crise diplomática com a China provocada por insinuações presidenciais de que o país asiático teria provocado propositalmente a pandemia.

Se nada mudar, 1 milhão de mortes

O percentual de brasileiros imunizados pelas duas doses da vacina avança a passos lentos. Até agora, chega a pouco mais de 10% da população, segundo dados do Ministério da Saúde. 

Conforme alerta um estudo do cientista social russo Alexei Kouprianov, o cenário - somado ao baixo índice de isolamento social e à introdução de novas variantes - pode levar o Brasil a dobrar o número de mortos até outubro de 2021, elevando o patamar para insuportáveis 1 milhão de mortes. 

Ataques à ciência e à educação

A falta de respostas concretas do Ministério da Educação (MEC) fez com que os alunos fossem atingidos duramente pela pandemia, sofrendo para manter o calendário de estudos. 

"A ausência de aulas presenciais gerou um grande desafio para quem enfrenta o ensino hibrido sem internet e sem suporte tecnológico", aponta a vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Élida Elena. 

Na contramão do mundo, o Brasil teve redução no investimento em pesquisas científicas, inclusive aquelas que poderiam contribuir para a superação da pandemia.

"O governo ataca a ciência e as universidade públicas, que têm cumprido um papel muito importante no combate à doença, com mais de duas mil pesquisas sobre o tema", denuncia a representante da UNE.

Brasil de Fato 
 

Lusa/David Fernandes

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