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Sabado, 27 de abril de 2024
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José Osmar

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

13/07/2022 - 10h07

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José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

13/07/2022 - 10h07

O QUE EXPLICA O ÓDIO AO PT?

 

Vejo as pesquisas eleitorais para a próxima eleição presidencial e recuso-me a crer que estejam certas. Depois de tudo o que sofremos e do que estamos a sofrer é surreal que o Bolsonaro ainda tenha 30% das intenções de voto neste País. Mas elas – as pesquisas – são tão insistentes que não me resta outra saída se não acreditar que estão corretas. E isso – eu confesso – me deixa muito baixo-astral. A pergunta que me faço é a seguinte: o que leva ainda tanta gente a continuar votando no Bolsonaro? E a única resposta que me parece razoável é o ódio. O ódio que esses 30% têm ao Partido dos Trabalhadores (PT) e de seus líderes.

O sítio eletrônico da Jovem Pan (https://jovempan.com.br/noticias/brasil/pt-segue-sendo-o-partido-mais-querido-e-odiado-do-brasil-aponta-pesquisa.html) publicou o resultado de uma pesquisa feita em 2014 pelos cientistas políticos David Samuels e Cesar Zucco Jr., em parceria da Universidade do Minnesota (EUA) e com a FGV (Fundação Getúlio Vargas – RJ), denominada “Partidarismo, Antipartidarismo e Comportamento do Voto no Brasil”. A pesquisa mostrou que naquele ano 11,4% dos eleitores brasileiros odiavam o PT.
 
A matéria destacou que os antipetistas eram “geralmente eleitores brancos, na faixa dos 40 anos, que defendem a ascensão dos militares ao poder. Eles, no entanto, dizem que pagariam mais impostos para a saúde e educação, defendem a cobrança maior para os mais ricos, a ação contra a desigualdade e os direitos homoafetivos e o aborto”.
 
Não há notícias de que outra pesquisa com esse objetivo tenha sido realizada depois de 2014, porém, não há dúvidas de que o percentual de pessoas que odeiam o PT subiu significativamente, como resultado do massacre midiático e judicial a que a sigla e seus líderes foram submetidos entre os anos de 2005 e 2020. Foram quinze anos de acusações diárias – algumas, verdadeiras; a maioria, injúria, calúnia e difamação.

Assim, acho que é correto supor-se que, hoje, o percentual dos que odeiam o PT esteja na casa dos 20% que, somados aos cerca de 10% que não votam na esquerda de jeito nenhum, alcança a marca dos 30% de intenção de voto que Bolsonaro – apesar de tudo – ainda tem.

Veja-se que a pesquisa de 2014 informa que é de 40 anos a idade média dos que odeiam o PT, e que os odiadores defendem um golpe militar. Portanto, não são jovens ainda em formação da personalidade. Sabem perfeitamente o que dizem e querem. Ao mesmo tempo, aceitam pagar mais impostos para financiar a saúde e a educação, e até defendem direitos para as minorias e o aborto. Há, aí, uma clara contradição que revela a essência do pensamento dessas pessoas: na verdade, eles assumem as pautas de melhor distribuição de renda, benefícios sociais e minoria apenas para não parecerem radicais aos olhos do entrevistador, porque pensam: “Se eu declaro que odeio o PT e sou favorável a um golpe militar, então eu preciso assumir as políticas sociais desse partido, para assim mitigar o meu ódio”. Isto porque, seguramente, ninguém gosta do odiador – nem ele mesmo. 

Mas voltando ao tema deste artigo, o que explicaria o ódio de 30% dos eleitores brasileiros a um partido político – lembrando que quem odeia não pode ser colocado na categoria de adversário, mas de inimigo? Já vi muita explicação para isso. Uma, porém, é a mais comum e também a mais adequada: o ódio não é propriamente ao Partido, mas a tudo aquilo que ele defende e representa: saúde e educação também para os pobres, distribuição mais equânime da renda nacional, respeito aos direitos das minorias e marginalizados, resgate da dívida social que o Brasil tem com indígenas e negros, enfim, uma nação mais igual, fraterna e solidária. Os odiadores não suportam periféricos frequentando aeroportos, shoppings e restaurantes, viajando ao exterior, andando e carro e de moto, fazendo churrasco e tomando cerveja. Os odiadores têm em seu subconsciente ainda gravadas as imagens da infância e dos seus antepassados na casa-grande contemplando a senzala lotada de pretos escravos, a servir-lhes de pasto para o gozo material e até sexual, sem direitos, sem voz, simples objetos adquiridos como peixe no Cais do Valongo. 

Existira uma genética social? Richard Dawkins fala-nos de uma certa ciência denominada sociobiologia, sugerindo que os comportamentos sociais teriam uma base genética.

Por outro lado, há aqueles que, sendo de origem humilde, também dizem odiar o PT. O que explicaria tal atitude numa pessoa cuja situação de vulnerabilidade é, sabidamente, objeto das preocupações desse Partido? Deixo ao leitor a oportunidade de dá sua própria explicação para a existência do chamado “pobre de direita”. 

Paradoxalmente, o Partido dos Trabalhadores contina sendo o mais querido dos eleitores brasileiros. Segundo dados das últimas pesquisas de 2021, 28% dos entrevistados apontam o PT como seu partido favorito. O segundo colocado, o MDB, aparece com 2%. Isto diz muito sobre a resiliência da agremiação de Lula. 


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