Uma semana após aprovar a “mãe de todas as boiadas”, atropelando as regras de licenciamento ambiental no Brasil e abrindo caminho para mais tragédias climáticas e bloqueios comerciais, o Senado protagonizou uma cena lamentável de relinchos e coices contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na Comissão de Infraestrutura, nessa terça (27.05).
Dessa forma, a casa revisora chancela que vê o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável apenas como nomes bonitos para serem citados em discursos. Na prática, é o progresso a qualquer preço, que, sob a justificativa do lucro rápido, expulsa populações tradicionais, escraviza trabalhadores e torna o ar irrespirável e segue tratado a pão de ló.
Marina foi chamada para discutir a criação de unidades de preservação marinha na costa de estados amazônicos - na esteira da exploração de petróleo da Margem Equatorial. Sabia que não teria uma audiência simpática a ela, pois, nesse tema, há membros da base do governo Lula que estão alinhados à oposição. Mas acabou se deparando com algo próximo a uma armadilha regada a machismo e misoginia.
Ela foi interrompida várias vezes. O presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), mandou que ela “se ponha no seu lugar”, uma ordem tão machista quanto anacrônica que mulheres na vida pública ainda são obrigadas a ouvir. Vendo que não conseguia interrompe-la, disse que faltava a ela educação. “Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou”, vaticinou Marina.
Plínio Valério (PSDB-AM), que já tinha dito que gostaria de enforcar a ministra, afirmou que ela não merecia respeito: “Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher”. Marina respondeu: “Eu sou as duas coisas”. “A mulher merece respeito, a ministra, não”, concluiu o senador. Como ele não se desculpou, Marina se retirou da sessão.
Mas pelo menos o Senado é coerente. Essa demonstração bizarra se segue à outra, com a aprovação por 54 votos a 13 do atropelamento do licenciamento ambiental. Políticos argumentam que ambas foram derrotas para a ministra Marina Silva. Não, elas foram porradas na qualidade de vida do país a serem pagas por esta e pelas futuras gerações.
*****
Leonardo Sakamoto, jornalista - nas redes sociais.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.