Para Quintana, "Viajar é mudar o cenário da solidão". Para mim, é sentir-me um completo desamparado. Herdei do velho Liberato a vocação para pedra. A última viagem longa que fiz (2017) revelou-me algo muito doloroso: envelheci além do razoável. Ao fazer o check in, no aeroporto de Guarulhos, a jovem que me atendeu perguntou: "O Sr. precisa de acompanhante na hora do embarque?" Para não perder a viagem, emendei de bate-pronto: depende do perfil da acompanhante. Outra demonstração de velhice irreversível: zanzei pelo aeroporto inteiro à caça de uma livraria e não encontrei. Não bastasse isso, entre centenas de passageiros esperando voos, apenas eu uma moça triste conduzíamos livros. Por pouco, não pedi desculpas por estar portando objeto tão insólito e perigoso num universo completamente virtual. Pensando bem, melhor ficar em minha aldeia.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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