O Brasil tem um talento especial para criar máquinas de moer gente pobre, não só no setor público, mas também no privado. Desta vez, a engrenagem envolve bancos, seguradoras, clubes de benefícios duvidosos e a conivência e/ou incompetência do INSS. Aposentados e pensionistas, muitos com rendas que mal cobrem remédios e alimentação, estão sendo sistematicamente saqueados por débitos automáticos ilegais, irmãos daqueles descontos indevidos do INSS.
Os casos escancarados por investigação de Amanda Rossi, no UOL, mostram um padrão: cobranças de seguros nunca contratados, débitos de serviços cancelados há anos, descontos múltiplos que sugam o benefício antes mesmo de o aposentado poder pagar as contas básicas. Tudo feito a partir da conta do beneficiário.
Os bancos brasileiros, onde o débito automático é feito, fingem que não sabem, mas sabem. Eles são parte em vários processos, inclusive tendo sido condenados como mostra a reportagem.
Como empresas não se questionaram diante da quantidade de casos e por que elas não começaram por contra própria uma checagem juntos aos clientes? Pelo contrário, continuam permitindo que aposentados e pensionistas tenham seus benefícios saqueados por um esquema que existe porque eles, os bancos, decidiram fazer a egípcia. Isso não é “falha do sistema”. É conivência.
Os golpistas por trás desses descontos ilegais só agem porque encontram portas abertas. Os bancos, que deveriam ser os guardiões do dinheiro de seus clientes, mantêm sistemas frágeis de verificação, permitindo que cobranças suspeitas sejam debitadas sem questionamento.
O INSS também não está livre disso. Desta vez, a questão não são os descontos abusivos na fonte, como na tungada bilionária de associações e sindicatos, mas a nova sacanagem descoberta é um indicativo de que houve acesso irregular a dados de aposentados e pensionistas.
Da mesma forma que o INSS é criticado, e com toda a razão, por permitir descontos ilegais, bancos e instituições financeiras precisam ser cobrados da mesma forma.
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Leonardo Sakamoto, jornalista - nas redes sociais.
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