A rendição da mídia aos princípios de “o mercado” é absoluta. Não se questiona a fixação dos rentistas com os “gastos” do governo, tampouco se pergunta se os cortes que propõem não prejudicariam em demasia a vida dos brasileiros de média e baixa rendas. Os donos do dinheiro e da dívida pública exigem que o Estado lhes sirva incondicionalmente, e a mais ninguém.
O empenho do momento é por escandalizar a proposição de aumento do IOF, como se existisse algo de draconiano em cobrar mais imposto de categorias sempre acima das crises. A quota de sacrifício não pode alcançar a turma da bufunfa, mas os aposentados, os usuários do SUS e outros tantos.
Comprometida com os idólatras da austeridade, historicamente a serviço de regimes fascistas ou quase, a mídia trabalha para pintar uma realidade dramática e favorecer Tarcísio de Freitas – sim, ele é o nome de “o mercado” – contra Lula em 2026.
Salvam-nos jornalistas como Pedro Cafardo, do Valor. Seu artigo de 10 de junho, intitulado “Coisas que acontecem num certo país infeliz”, é primoroso. Cafardo alude à ridícula propaganda política, em veiculação, que apregoa: “....e se tudo está caro, que saudade do Bolsonaro!”. Em resposta, como faz Cafardo, bastaria lembrar que a inflação nos últimos dois anos registrou a média de 4,73%, enquanto nos anos Bolsonaro chegou a 6,17% ao ano.
Pedro Cafardo nos alerta também que a taxa de desemprego no Brasil foi de 6,6% no primeiro trimestre de 2025, percentual próximo do mais baixo da série histórica. A desigualdade, medida pelo índice de Gini, foi no ano passado a mais baixa de História. Segundo a ONU, destaca o colunista do Valor, o número de brasileiros que passam fome caiu, em 2023, de 17,2 milhões para 2,5 milhões.
Reproduzamos um pouco de Cafardo: “O PIB desse país (o país infeliz do título) surpreendeu novamente os pessimistas e cresceu 1,4% no primeiro trimestre, índice superior ao dos países da OCDE e do G7 - ambos os grupos avançaram minguado 0,1%. O crescimento se dá a despeito da imposição de uma assombrosa taxa básica de juros, de 14,75% ao ano, nove pontos percentuais acima da inflação, que desincentiva investimentos”.
Pedro Cafardo ainda destaca corajosamente no jornalão mainstream que “nesse país pessimista, atingido há décadas pelo vírus da desindustrialização, a indústria voltou a crescer: 3,1% no ano passado. Em março, avançou 1,2% sobre fevereiro e 3,1% sobre março de 2024”.
Ainda há jornalistas no Brasil. Mas, na imprensa tradicional, são raros os que tenham a honestidade factual de Pedro Cafardo.
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Paulo Henrique Arantes, jornalista - no Brasil 247.
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