Na sexta (13/06/25), por volta das 10 horas, ao chegar ao espaço Rosa dos Ventos, na UFPI, experimentei uma sensação indescritível. Lembrei-me de um fato que mudaria, de uma vez por toda, o perfil do SALIPI. Na terceira edição do evento (2006), percebemos um fato entristecedor: no grande salão do Centro de Convenções de Teresina, além dos adultos, só circulavam crianças brancas, de classe média, oriundas das escolas particulares da capital. Imediatamente, firmamos uma parceria com o SETUT (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina) que colocou à nossa disposição uns 10 ônibus para transportar da periferia de Teresina para o Centro de Convenções alunos da rede pública de ensino. O SALIPI ganhou milhares de caras alegres e uma nova cor: marrom-descaso. As crianças chegavam aos magotes sob a tutela de professores aflitos. Para atendê-las, montamos um pequeno circo com música, contação de história, brincadeiras...
O Salão caminhava para sua consolidação: se, com o Língua Viva, atendíamos os professores; com a programação infantil, ofertávamos à molecada atividades lúdicas, educativas. Decididamente, o SALIPI tornara-se uma festa completa.
Numa tarde, cheguei ao Centro de Convenções quando os ônibus despejavam no espaço uma batelada de crianças. Entrei meio empurrado pelos meninos. Ao passar em frente a um dos estandes, ouvi da proprietária o comentário: “Só podia ter saída da cabeça de jerico do Cineas a ideia de entulhar este espaço com meninos sujos, fedorentos que não compram um lápis e atrapalham o fluxo dos transeuntes”. A cidadã fez o desabafo em voz alta para que eu pudesse ouvir. Para surpresa dos presenciaram a cena, comecei a sorrir. O que aquela senhora, que nunca leu um poema, não poderia imaginar é que eu estava me lembrando dos versos de Manoel de Barros: “Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro./ Para mim poderoso é aquele que descobre as/ insignificâncias (do mundo e as nossas./ Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil/ Fiquei emocionado./Sou fraco para elogios”. Continuei sorrindo.
Nessa sexta, mal consegui circular nos corredores do SALIPI: um dilúvio de alunos das escolas públicas de Teresina e do interior do Estado ocupavam cada centímetro do espaço. Fiquei (por que não confessar?) um tantinho vaidoso: “cabeça de jerico” foi o maior dos elogios que recebi na vida. Assim seja!
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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