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02/01/2019 - 09h50

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02/01/2019 - 09h50

Bolsonaro deveria lembrar que inimigo da concórdia é Lúcifer e não Deus

Querer abrir uma guerra ideológica em um país já estressado politicamente é o que menos leva à utopia de que o Brasil “encontre seu destino”, como desejou em seu discurso no Congresso.

Jair Bolsonaro posa após discurso de posse de presidente

 Jair Bolsonaro posa após discurso de posse de presidente

Quem esperava que o Bolsonaro, já presidente, seria diferente do Bolsonaro candidato, se equivocou. Existe apenas um com seu discurso radical, que, irônico paradoxo, reproduz um dos erros dos governos de esquerda que ele abomina e combate: o do “nós contra eles”. 

O novo presidente da extrema direita confessou que veio “libertar o Brasil do socialismo”, e que a bandeira brasileira “nunca será vermelha”. É como afirmar que aqueles que defendem, em seu direito democrático, os valores que não são os da extrema direita, não cabem mais no Brasil.

O grande ausente em seus discursos, que poderia tê-lo resgatado das acusações de sectarismo, foi a esperada afirmação de que pretendia ser o presidente de “todos os brasileiros”, sem distinção de cores ou ideologias. Um presidente disposto a contribuir para reconstruir juntos um país lacerado. Tentar combater o perigo das ideologias excludentes com outra ideologia de cor diferente é perpetuar o drama da divisão.

Querer arrancar do arco-íris dos valores democráticos uma de suas cores é perpetuar a luta ideológica, pois as verdadeiras democracias, aquelas que criam prosperidade e liberdade, abraçam em vez de dividir. Afirmar que veio libertar o Brasil do socialismo equivale a mutilar a democracia que se conjuga com todas as cores da política. Afirmar que somente com sangue, isto é, com violência, valores políticos que não são os seus seriam aceitos é convidar os brasileiros a alimentar sentimentos de perigosas rivalidades. Em vez de unir o país em uma esperança comum de convivência, ele o arrasta e incita a continuar não apenas dividido, mas a abrir uma guerra ideológica mais perigosa do que a que tenta combater.

Bolsonaro — que afirma querer governar em nome dos valores cristãos e judeus com uma bandeira mutilada — deveria se lembrar que o rei da divisão e inimigo da concórdia é Lúcifer e não Deus. O Deus cristão não apenas não divide nem discrimina, mas abraça até o que o mundo despreza.

Querer abrir uma guerra ideológica em um país já estressado politicamente é o que menos leva à utopia de que o Brasil “encontre seu destino”, como desejou em seu discurso ao Congresso. Na história humana, os povos, ontem e hoje, só descobrem e dão sentido a um destino que liberta as pessoas das correntes impostas pela tirania, caminhando juntos, diferentes, mas unidos e enriquecidos pelas diferenças. Querer apequenar as cores da democracia é empobrecer a beleza da diversidade. É querer combater fantasmas que só existem nas mentes dos frustrados.

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Juan Arias é jornalista e escritor, no portal El País Brasil 


 

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