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22/04/2019 - 17h49

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22/04/2019 - 17h49

Porque governo esconde estudos sobre a proposta de reforma da previdência?

Ao esconder dados mostra que não se importa com democracia ou não tem segurança naquilo que tem nas mãos.

Ministro da Fazenda, Paulo Guedes e o presidente Jair Bolsonaro

 Ministro da Fazenda, Paulo Guedes e o presidente Jair Bolsonaro

Apostando que o cidadão brasileiro está mais preocupado com vídeo de golden shower tuitado pelo presidente da República no Carnaval do que com o futuro de sua aposentadoria, o governo federal se negou a fornecer os estudos e pareceres técnicos que embasaram sua proposta de Reforma da Previdência. O pedido rejeitado foi feito pela Folha de S.Paulo através da Lei de Acesso à Informação.

Em outras palavras, os números que sustentam sua tese de que, para não naufragarmos como país, é necessário cortar na carne de idosos em situação de miséria, trabalhadores rurais pobres, viúvas e órfãos pensionistas, trabalhadores da classe média baixa (que terão mais dificuldade de se aposentar com o tempo mínimo de contribuição subindo de 15 para 20 anos), aposentados que recebem FGTS, trabalhadores com salário entre um e dois mínimos com direito ao abono, entre outros, não estão disponíveis.

O problema não é apenas (mais) uma lacuna democrática desse governo. Basicamente, Bolsonaro está pedindo à população que aceite que ele e sua equipe apresentem um outro projeto de país - pois é isso o que significa a Reforma da Previdência - sem mostrar as justificativas númericas usadas para abandonar a situação anterior e, ao mesmo tempo, apertar o cinto de parcelas vulneráveis da população.

Quem ganha altos salários no funcionalismo público não precisará contar moedas no final do mês quando se aposentar, mas há milhões de brasileiros entre as classes média e baixa que serão afetados e mereceriam saber ao menos a razão de terem sido atropelados por um caminhão em fúria.

Ao tentar empurrar a proposta goela abaixo sem mostrar dados e números, o governo Bolsonaro quer um cheque em branco do Congresso Nacional e da sociedade, um grande "confie em mim, a garantia sou eu". E, pior, fazendo chantagens explícitas, insinuando que, se essa reforma não passar com o tal R$ 1 trilhão de economia, o inverno chegará e White Walkers caminharão sobre as ruínas de nossas cidades.

Garantir transparência não é um favor, mas uma obrigação. Se a Reforma da Previdência trazida ao Congresso pelo governo está tão redonda como defendem seus representantes, então a publicização dos dados apenas ajudaria a convencer parlamentares e trabalhadores. Ao escondê-los, ele mostra que não se importa com democracia ou não tem segurança naquilo que tem nas mãos.

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Leonardo Sakamoto é jornalista, no Blog do Sakamoto. 

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