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Quarta-feira, 08 de maio de 2024
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José Osmar

José Osmar

joseosmaralves@hotmail.com

08/02/2022 - 07h24

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José Osmar

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08/02/2022 - 07h24

IMPRESSÕES DE UMA VIAGEM A CUBA - CAPÍTULO VII

Mausoléu de Che Guevara em Santa Clara, em Cuba.

 Mausoléu de Che Guevara em Santa Clara, em Cuba.

Dois anos e oito meses depois de nossa viagem a Cuba (Abril/2019) retomo a pequena história que prometi escrever em dez capítulos sobre a aventura que vivemos no país de Che Guevara e de Fidel Castro.

O capítulo anterior (Cap. VI) foi concluído com nossa primeira noite na cidade de Santa Clara, Capital do Estado de Villa Clara, localizada a 260 km de Havana.

Passamos dois dias e três noites em Santa Clara, que é considerada a cidade de Ernesto Che Guevara, porque nela, em 1958, se deu a batalha decisiva para a vitória dos revolucionários, e porque lá estão os restos mortais do revolucionário argentino.

A tumba do Che é um monumento magnífico, com um pequeno museu, no qual se pode conhecer a história do homem que ajudou a derrubar o governo de Fulgêncio Batista e a implantar a República de Cuba em janeiro de 1959. Vale a pena uma visita ao “Maosoleu del Che Guevara”.

Santa Clara foi a cidade que melhor impressão nos deixou, pela limpeza de suas ruas, pela beleza e conservação do seu centro histórico, pelos seus aconchegantes bares noturnos, onde se pode beber Rum Havana Club Anejo por 3 Cucs (3 dólares) a dose.

Em nosso primeiro dia, após a visita ao mausoléu do Che, fomos almoçar num restaurante na cidade. O lugar é lindo, refrigerado, mesas irrepreensivelmente postas. Serviço a la carte. Comemos peixe, salada, purê de batata e vinho. Pratos muito elaborados, servidos com esmero, em louças impecáveis, nada devendo aos bons restaurantes dos países capitalistas.

No segundo dia, à noite, fomos a outro restaurante localizado em um clube social nos arredores de Santa Clara. Tratava-se de um self-service sem balança, com uma grande variedades de pratos e sobremesa. Tudo bem organizado, higiênico e saboroso. Não precisamos dizer que o nosso motorista Yuri comia nos mesmos lugares que nós, pagando do próprio bolso, o que significa que os preços em Cuba não tornam o aceso aos restaurantes mais sofisticados (sim, eles existem lá também!) algo exclusivo para turistas endinheirados, pelo menos não para um motorista de táxi. Também observei que ele pagava o preço integral da comida, sem qualquer “abatimento” por ser cubano ou por algum “agenciamento” de clientes para os restaurantes. 

Me di una mano, por favor!

Onde estava a Cuba miserável que conhecíamos pelas páginas da mídia ocidental? Salvo pela farda dos garçons e garçonetes lembrando que eram funcionários públicos, tudo naqueles restaurantes tinha a ver com um povo educado, culto e solícito, como se estivéssemos nos melhores restaurantes de Teresina ou de São Luís do Maranhão.

No entanto, mais tarde, no centro da cidade, veríamos uma pessoa pedindo esmola. Era uma senhora de uns sessenta anos. Ela pedia de forma discreta, claramente procurando evitar que alguém (a polícia?) a visse. Perguntei ao Yuri do que se tratava. Ela tinha medo de quê? Bom, parece que todos em Cuba têm um salário ou uma pensão como aposentado. O valor é baixo, porém, suficiente para sobreviver. Todos têm acesso à saúde, educação e à comida básica. Por isso – explicou-nos o Yuri –, é crime pedir esmola. Também no Brasil até 2009 mendigar era considerado contravenção penal, com pena de quinze dias a três meses de prisão.
 
Quanto à questão da moradia, acessando a internet a gente se depara com notícias de que há uma crise em Cuba. Porém, nós não vimos moradores de rua, drogados, pessoas revirando lixões, pedindo esmola nos sinais de trânsito ou crianças desnutridas. Tampouco vimos mansões deslumbrantes, carrões incríveis ou sinais de riqueza mal distribuída. No entanto, a julgar pelos hotéis em que nos hospedamos em Santa Clara e em Havana – de particulares – não levará muito tempo para essas diferenças aparecerem.

Malandragem das grandes cidades – capitalista ou comunista, o homem é sempre o homem

De volta a Havana, andando pelo Malecón (calçadão da orla marítima) fomos abordados por um jovem que nos ofereceu charutos por um preço excelente (charutos e rum são produtos caros em Cuba). O rapaz, bastante educado e falador, se aproximou de nós e disse: “Disulpe, pudo tener algo de su tiempo”? Nós entendemos o que ele queria, mas nos fizemos de desentendidos. Então, ele emendou imediatamente: “Excuse me, can you hear me for a moment”? Dissemos que éramos brasileiros que ele podia falar em português ou espanhol. Ele não sabia português.

Então, nos contou uma história interessante. Disse que ao assumir o poder, Fidel Castro deliberou que todo ano a produção de charutos de um dia seria distribuída entre os trabalhadores de cada fábrica, para que eles fumassem ou vendessem; evidentemente – ele disse –, a maioria preferia vender o produto que, sem os impostos, ficava pela metade do preço das lojas oficiais; para termos aquela grande vantagem – continuou –, bastava irmos com ele à associação dos trabalhadores nas indústrias de tabaco de Havana, que ficava a uns três quarteirões do Malecón. Queríamos trazer um pouco de charuto e rum para uns amigos, mas preferimos não aceitar a oferta, porque pareceu-nos que poderíamos ter problemas na alfândega, embora ele tenha jurado que a venda era legal. Mais tarde, no hotel, soubemos que o garoto estava mentindo. De qualquer forma, aquela conversa furtiva nos revelou o que já suspeitávamos: existe um mercado subterrâneo em Cuba. É aquela história: quando a oportunidade aparece, os comunistas também aproveitam.

Não sei se o risco vale a pena, mas, é como dizem os alemães: “Männer sind Männer, hier und alle Welt”. (Os homens são os homens, aqui e em todo o mundo”).

(Segue no próximo capítulo...)

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