Em mais de uma oportunidade, afirmei não ter comércio com a morte. Meu negócio é a vida. Mas devo confessar que, quando a “iniludível”, como uma gata mansa, andou rondando Gilberto Gil, fiquei preocupado, triste, quase aflito. Sem a alegria de Gil, o Brasil ficaria mais triste, mais pobre, mais feio.

Para alegria de todos nós, lépido e fagueiro, o  moço, agora imortal, chega aos 80 anos de idade como um moleque arteiro que, por falta de tempo, não se lembrou de envelhecer. 

Todo mundo louva as qualidades de Gil como músico; pouco se lembram de que nele o poeta e o músico se completam.  Vejam esta letra:
                               
METÁFORA  

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: lata
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: meta
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo, nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber o incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.