

Não tive infância. Nunca empinei papagaio (pipa, para os mais cosmopolitas). Pouco tentei, sem sucesso, flutuar aquele pássaro de papel de seda. É preciso vento para colocar a pipa no ar. O Brasil está na alta temporada. Ventos de norte a sul chamam a garotada (por que as meninas, que já jogam futebol, não gostam dessa brincadeira?) para o meio da rua, à procura de algum lugar livre de prédios e fios elétricos. Toda cidade deveria amadurecer sem perder a infância das pipas. Agora, adulto, relembro em São Luís (MA), próxmo do Estádio Castelão, que há uma divisão na brincadeira. Os empinadores disputam os céus com suas linhas cortantes. Uma outra turma fica de olhos vidrados na queda daquela que perderá altitude. São os caçadores de pipas. Eles têm infância, no Brasil e no Afeganistão.
Mauro Sampaio
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