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Quarta-feira, 30 de abril de 2025
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cantidiosfilho@gmail.com

30/04/2025 - 17h57

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30/04/2025 - 17h57

A Beleza da Partilha

 

O homem era carroceiro, idade inescrutável, gestos lentos e cara sofrida...

 O homem era carroceiro, idade inescrutável, gestos lentos e cara sofrida...

Dia desses, no bairro Ininga, onde moro, presenciei uma cena inesquecível. Meio-dia, sol a pino, um casal agasalhou-se à sombra de uma amendoeira. O homem era carroceiro, idade inescrutável, gestos lentos e cara sofrida. A mulher, catadora de papel, era rechonchuda, ativa, faladeira. Não sei que vínculo afetivo os unia. De repente, o carroceiro encostou-se na parede do muro, esticou as pernas e acendeu um cigarro. A mulher, sempre rindo e falando, abriu um saco de plástico escuro de onde retirou uma quentinha, dessas que se vendem nas biroscas da vida. Tirou um lenço colorido que trazia amarrado à cintura e o colocou na calçada como se fosse uma toalha. Em seguida, abriu a quentinha e, com um gesto acolhedor, convidou o carroceiro a compartilhar o grude. Como só havia uma colher, os dois passaram também a dividi-la. Cada um, depois da colherada, passava a ferramenta ao outro. Só me lembro de ter visto algo assim no sertão do Caracol onde faltavam comida e colher.

Por um instante, parei para apreciar aquela cena comovente: um casal extremamente pobre dividindo o que mal daria para alimentar um deles. Não me lembro de ter visto nada mais belo em matéria de partilha. Às vezes é preciso acreditar na humanidade.

*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais. 
 

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