Do momento em que um estudante entra na escola até sair da faculdade, ele terá de passar por muitas avaliações. Além das provas realizadas pelas próprias instituições, tem de responder a uma série de testes promovidos para avaliar o sistema de ensino e conhecer o desenvolvimento dos alunos brasileiros. Esse mesmo estudante, no entanto, quando tem menos de seis anos, é um desconhecido pelo governo no que se refere a suas habilidades e potencialidades.
“O Brasil só mede as carências da primeira infância, mas não temos informações sobre o desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos”, apontou o secretário de ações estratégicas da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, em encontro sobre o tema organizado pelo instituto Inspirare em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em São Paulo.
O País monitora – e comemora – índices como de mortalidade infantil e subnutrição, importantes referências para países subdesenvolvidos. Mas, segundo o secretário responsável pela concepção do Programa Brasil Carinhoso , de atenção às crianças com essa idade, esses dados não ajudam em nada para criar uma agenda positiva para a primeira infância. “A política de primeira infância tem que deixar de ser de país pobre”, explicou.
Baseado em dados econômicos, como o fato de o número de crianças em condição de pobreza extrema ser duas vezes maior que o de adultos, o governo lançou em maio deste ano um programa que inclui distribuição de renda, investimento em creches e aposta na integração de programas de atendimento às famílias para melhorar a vida das crianças até os 6 anos . O Planalto avalia que o investimento nesta fase traz mais frutos do que em qualquer outra, mas os resultados desse programa, que tem orçamento de R$ 10 bilhões até 2014, não poderão ser medidos de forma efetiva.
Para Paes de Barros, a dificuldade em se criar e implantar condições para mensurar a primeira infância acontece por três crenças disseminadas no País. Primeiro, existe muita resistência em aplicar ações e modelos estrangeiros, porque as crianças brasileiras teriam realidades diferentes. O temor de traumatizar as crianças com avaliações é outro fator apontado pelo secretário e, por último, está a contrariedade em estigmatizá-las. Segundo o Paes de Barros, que discorda de todos esses motivos, ainda não se sabe o que fazer com a informação de que uma criança tem o desenvolvimento fora do esperado, por exemplo. “Não vou dizer para o pai que ele tem problema, porque querer dexá-lo para trás” é uma das reações possíveis de ocorrer, relata Barros.
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