

Nenhum país do mundo escapa da corrupção. Ainda que seja um fiapo, há alguém em busca de um plus patrimonial que não conquistaria apenas com o trabalho e a renda.
O homem corrompe. O homem se corrompe. A oportunidade faz o corrupto.
O brasileiro é chegado a facilidades: contracheques sem a devida contraprestação; favores públicos; vantagens indevidas; sonegações; aquele toma-lá-dá-cá. Mãos vão lavando as outras em pequenos e gigantescos esquemas.
Quem pode mais, rouba mais.
A Petrobras é uma mina. Não é de hoje e nem de ontem que diretores, gerentes e políticos com influência na estatal abraçaram a causa do enriquecimento esperto, de preferência com charmosas contas na Suíça.
Partidos políticos que chegam ao poder se conluiam com empresários vencedores de contratos petrolíferos para extrair grossos recursos para suas campanhas. Sobra sempre um pouco para doleiros e outros intermediários dessa farra.
A Petrobras tem sido desde antes do PT a fonte de tenebrosas transações.
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) está preso porque, segundo nova interpretação da Constituição pelo Supremo Tribunal Federal (STF), estava em estado de flagrância ao sugerir ao filho do delator Nestor Cerveró, na Lava-Jato do juiz Sérgio Moro, um plano de fuga e uma "pensão vitalícia" para ele omitir a participação do parlamentar em ganhos ilícitos.
Delcídio foi filiado ao PSDB e diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso. Cerveró era um gerente subordinado. Desde aquela época faziam retiradas às escondidas. O senador e ele continuaram juntos no governo do PT. Delcídio pretendia dar por encerrada sua participação no submundo da política se Cerveró silenciasse?
A corrupção no Brasil tem passado, presente e futuro. A desigualdade social, idem. Ambas são perversas, marcas registradas. Inibir a corrupção e reduzir a distância entre os ricos e os pobres fariam muito bem ao País. Reunir essas duas metas parece incompatível com o DNA da brasilidade.
Há um consolo, a corrupção está em toda parte e se verifica em todas as épocas. Atravessou o Oceano Atlântico nas caravelas. Lá na civilizada Europa do século XIX, quando Portugal estava por aceitar a independência de sua principal colônia, o escritor francês Honoré de Balzac deixou-a transparente no romance "O pai Goriot".
O arrivista Vautrin explica ao ambicioso estudante Rastignac que ele não ficará rico com uma profissão "honesta" e quer convencê-lo a praticar um crime, com pouquíssimas chances de deixar vestígios, para se tornar membro da nobreza e frequentador dos salões parisienses:
Sabe como é que a gente faz carreira por aqui? Pelo brilho da inteligência ou pela habilidade da corrupção. É preciso penetrar nessa massa humana como um projétil de canhão, ou insinuar-se no meio dela como uma peste.
A honestidade não serve para nada. Todos se curvam ao poder do gênio; odeiam-no, tratam de caluniá-lo, porque ele recebe sem partilhar; mas curvam-se, se ele persiste. Numa palavra, adoram-no de joelhos quando não o podem enterrar na lama.
A corrupção representa uma força porque o talento é raro. Assim, como a corrupção é a alma da mediocridade que abunda, você sentirá sua picada por toda parte. Verá mulheres, cujos maridos tem só seis mil francos de vencimentos, gastarem mais dez mil em vestidos. Verá empregados de mil e duzentos francos comprarem terras. Verá mulheres prostituirem-se para passear na carruagem de um filho de um par da França.
Eu não acabaria mais de falar se fosse preciso explicar os negócios indecorosos que se fazem por amantes, por vestidos, pelos filhos, pelo lar ou pela vaidade, raramente por virtude, pode estar certo. Assim, o homem honesto é o inimigo comum.
Mas que pensa você que seja um homem honesto? É certo que nele reside a virtude em todo o esplendor de sua estupidez, mas nele reside também a miséria. Portanto, se você quiser obter fortuna imediatamente, é preciso já ser rico ou parecê-lo. Para enriquecer, é preciso jogar grandes paradas.
Assim é a vida. Não é mais bela que a cozinha, cheira mal como a cozinha e é preciso sujar as mãos para fazer um guisado. Basta saber lavar bem a cara. Nisso reside toda a moral de nossa época. Sempre foi assim. Os moralistas nunca o mudarão. O homem é imperfeito. O homem é sempre o mesmo, no alto, embaixo, no meio.
Atual, honestamente bem atual.
(artigo também publicado no blog Brasília do portal Política Real)
Mauro Sampaio
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