O brigadeiro Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, confirmou ao STF, nessa quarta-feira (21.05), que foi apresentada a ele e a seus colegas do Exército e da Marinha a proposta de decreto que acabaria por validar um golpe de Estado e beneficiar Jair Bolsonaro, que havia sido derrotado nas urnas por Lula.
Foi mais direto que o depoimento do general Freire Gomes, na segunda (19.05), mas ambos apontaram a mesma coisa: que o presidente buscou o envolvimento das Forças Armadas para baixar estado de sítio, prender autoridades e melar as eleições. Ponto.
A passada de pano corporativista que Freire Gomes deu para tentar amenizar para o lado do almirante Almir Garnier (que disse que estaria com Jair) não muda em nada o que é importante nos dois depoimentos. Aliás, diante da refugada, o general foi alertado por Moraes de que havia dito algo diferente à Polícia Federal sobre Garnier e acabou confirmando o ocorrido.
Da mesma forma, a questão que ganhou destaque, de que Baptista Júnior afirmou que Freire Gomes alertou a Bolsonaro de que teria que prendê-lo se avançasse com os planos golpistas, o que foi negado pelo general em seu depoimento ao STF, mostra mais as preocupações do ex-comandante do Exército hoje com sua imagem frente ao bolsonarismo (que ele admira) e com os colegas de caserna (ambos ficaram queimados e foram atacados por não aceitarem o golpe). Mas não muda o principal.
Os depoimentos confirmaram que a proposta golpista, que termina com uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), dando poderes aos militares para intervirem no Tribunal Superior Eleitoral, foi discutida mais de uma vez entre as eleições e o fim do ano, com a presença de Bolsonaro e do então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.
Bolsonaro já deixou claro em declarações que teme o documento, uma das provas materiais da intentona golpista e de seu envolvimento. Por isso, ele, seus aliados e advogados tentam, de todas as maneiras, derrubar sua validade. Mas, importante ressaltar, ela foi duplamente confirmada por dois comandantes militares. Qualquer coisa fora disso, é conversa para gado dormir.
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Leonardo Sakamoto é jornalista e colunista do Uol - nas redes sociais.
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